No meu dicionário, a solidão mora na página 520.
Trata-se de um substantivo feminino
utilizado pra homens e mulheres que vivem sós.
Pessoas que vivem repletas de outras pessoas ao redor de si,
porém carentes de companhia.
Uma pessoa solitária é capaz de sentir a sua própria ausência.
Solidão expressa vazio, expressa isolamento
e, mais ainda, necessidade.
Necessidade de encontrar um par de olhos
que, pelo menos, retribua um olhar.
Necessidade de encontrar uma voz
que seja, pelo menos, a certeza do silêncio quebrado.
Parece simples, mas, entre nós,
tem gente que daria tudo pra receber um “BOM DIA”,
e nem isso consegue.
Entre nós, tem gente sendo impulsionada pelo desânimo,
e isso é andar pra trás.
Andar pra trás significa se distanciar da fé,
significa se auto-condenar
a carregar nas costas o peso de um mundo sem Deus.
Na vida de uma mulher, que eu conheci por esses dias,
a solidão morava não só no coração dela, mas também no corpo todo.
Num primeiro olhar, ela até parecia forte e animada.
Porém, ainda no primeiro olhar,
bastaram algumas poucas palavras pra que se revelasse o deserto de uma alma.
No centro desse deserto, estavam as muitas perguntas que ela costumava fazer a Deus.
E foi uma história longa e curta, ao mesmo tempo.
Longa, por tudo que ela falava sem saber; e curta, pela facilidade de ponderar sobre as coisas.
Era uma ignorância falsamente sustentada pelo isolamento,
uma revolta que não era bem uma revolta, mas sim a busca por alguém que a encorajasse.
Mal sabia ela que todas as orações que não surtiram efeito ainda tinham validade.
Essas orações estavam apenas aguardando a fé de quem tem fé e acredita.
Portanto, esse sentimento chamado solidão transcende qualquer relacionamento amoroso.
Ele vai muito além da idéia de “fase passageira na vida do ser humano”.
É que, em inúmeras ocasiões, investimos a nossa preocupação na figura do outro que não vem.
E não vem por quê?
Não vem porque eu ainda não fui, porque eu estou aqui parada, olhando Deus de longe.
Ou seja, é como se eu procurasse entender a solidão que eu digo que tenho
e, simplesmente, ignorasse o abandono que parte de mim mesmo.
A solidão, não tenha dúvida disso, ela mora onde Jesus Cristo não mora.
Não que essa seja a fórmula definitiva ou a resposta definitiva,
mas, faz sentido (e como faz sentido)
imaginar que a cura para as nossas maiores síndromes está na lógica da religiosidade que possuímos.
Se nos deixamos guiar pela despreocupação que nos ensina que “Deus espera”,
a tendência é que essa espera seja revertida contra nós.
Em contrapartida, se a nossa opção diz que devemos viver intensamente uma vida regrada,
tudo indica que os nossos sorrisos serão mais fáceis e verdadeiros,
tudo indica que a solidão ficará mesmo, pra sempre, na página 520 do dicionário.
A solidão, não tenha dúvida disso, ela mora onde Jesus Cristo não mora...
São Gonçalo - RJ.
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