Era um jovem que tanto queria ter um bom emprego,
tanto queria ter um bom salário,
que Deus o atendeu e fez dele uma pessoa próspera financeiramente.
Hoje, é um homem de quase 30 anos,
que muito se preocupa em administrar os bens que possui.
Ele zela pelo carro que tem;
já faz planos em relação à próxima casa que vai construir;
é dono de uma coleção de sapatos;
dono também de uma coleção de relógios;
e todo dia, religiosamente,
acessa a internet pra imprimir um extrato da conta bancária.
No caminho pro trabalho,
bastante comum é o telefone celular dele tocar inúmeras vezes.
Infelizmente,
a única coisa que não tem tocado, na vida desse homem,
é o sino da partilha.
Seria ele uma pessoa egoísta?
Imagino que não, até porque foram vários anos de estudo,
que o levaram, através do próprio esforço,
a conquistar a tão sonhada estabilidade.
Estaria ele sofrendo da síndrome da memória curta?
Tenho certeza que sim,
pois essa é uma particularidade de quem começa pedindo humildemente
e, pouco tempo depois,
mergulha na cegueira do “eu, somente eu, e mais ninguém”.
De onde vem o nosso egoísmo?
***
Era um dia de sol, e o lago da cidade estava repleto de pessoas.
Umas pescavam, outras tomavam sol,
além daquelas que estavam ali somente passeando.
De repente, um homem de quase 30 anos, com o telefone celular tocando,
escorregou e caiu no lago e, desesperadamente, começou a gritar por socorro.
Poucos segundos depois, cinco meninos já estavam ao redor dele para resgatá-lo.
Assim que foi retirado da água, o homem,
ainda aparentando nervosismo, agradeceu por demais.
E não só agradeceu,
mas também distribuiu uma quantia para que os meninos dividissem.
Por que será que, na adversidade, os nossos conceitos rapidamente se modificam?
Afinal de contas, nós somos o que somos ou somos o que temos?
***
Isso faz lembrar a história do ateu, sonhando que o avião estava caindo.
Assim que percebeu que tudo não passava de um sonho,
ele foi logo dizendo “graças a Deus”.
É que, quando esse tipo de coisa acontece,
não tem ciência que dê jeito, nem cientista que permaneça dormindo.
De onde vem o nosso egoísmo?
***
Tão simples é entender que amanhã é outro dia,
mas tem gente que até disso se esquece.
E quer conforto e quer sentar na primeira fila e quer ter satisfação em curto prazo,
mesmo que, para isso, muitos outros tenham que arcar com o prejuízo.
É na individualidade que o egoísmo se expressa,
que o egoísmo contamina os nossos dias.
Egoísta é a nossa vontade de vencer sempre e não enxergar mérito no triunfo alheio.
Egoístas somos todos nós quando deixamos a injustiça prevalecer,
quando nos deparamos com um semelhante dormindo na rua e achamos normal.
Egoístas são todos aqueles que se isentam de culpa quando o assunto é desigualdade.
Será que existe jeito de parar esse trem desgovernado?
***
Isso faz lembrar a história do motorista imprudente, amigo inseparável do acelerador.
Porém, assim que percebeu que tinha perdido o controle do carro,
ele foi procurar o freio.
É que, quando esse tipo de coisa acontece, acidentes também acontecem.
Por que será que, na adversidade, os nossos conceitos rapidamente se modificam?
Fraqueza de personalidade; fraqueza de espírito; ou lei da sobrevivência, simplesmente?
Prefiro acreditar em fraqueza de espírito,
algo bastante comum a quem pensa que a vida é uma eterna diversão.
E não se prepara, e não se refugia, e não tem devoção a nada.
A mesma fraqueza de espírito que tanto motiva as nossas atitudes egoístas.
***
É aquele mesmo homem, de quase 30 anos, que preferiu desligar o telefone celular,
que preferiu dar menos importância a sapatos e relógios,
pra fazer da solidariedade um objetivo de vida, uma preocupação permanente.
Hoje, ele está prestes a construir mais uma casa... (de assistência a pessoas necessitadas).
***
De onde vem o nosso egoísmo?
Será que os nossos conceitos precisam de quedas e cortes para que sejam revistos?
São Gonçalo - RJ.
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