Certo dia, em meio a tantos vaivens
na sucessão dos dias
No meio às lacunas e as lutas,
Encontrei com consternação
Certo casal que de um bar saía.
Ela, com muita circunspeção,
entre os ósculos do amante,
Numa acrimoniosa atitude
Abrangendo os olhares da multidão
Entre os sorrisos incontidos
Enquanto no carro partia.
Por certo renunciava o companheiro
Depreciando seu nome,
Postergando seu abrigo
No distante sítio que viviam
Entre os animais de cria
E a ordenha na madrugada.
Era feliz o casal que vivia
Da distante e turbulenta cidade;
Ao pé do morro, eles conviviam,
Sem ostentação ou similaridade.
O sonho distante, muito além,
Das riquezas que o marido recebia
Era dar à amada, sua dita,
Todo o amor que seu peito sentia.
Porém, certo dia, viu sua graça nos
braços de alguém,
E nesse arem, seu cantinho de amor
lenitivo do ninho, do aconchego
e do calor, desaparecia.
Maldosa língua, um certo demônio
deitava-lhe palavras infernais
Perpetrando-lhe o desdém,
A calúnia vertente do mal
em lágrimas de fel;
Toda a ânsia maldosa
Toda a desgraça acontecer
Importava-lhe somente,
ver o sangue correr.
A besta aconselha a matar
transformando o marido,
Um homem ferido,
Um íntimo decaído
Em assassino ferino.
Dá-se o encontro
Sem ser ocasional,
surgindo a cena num relance
entre ambos os olhares finais...
O sangue lhe flui na cabeça
Enrubescendo a face,
E num relance, num segundo
escoa-se no tempo
do relógio do mundo.
Encolerizado e ofuscado pela visão,
Arrostando certa aversão
de fero viver assanho
maldosamente a ambos
o ex-companheiro investiu
qual animal feroz, sem coração,
na ânsia de matar,
acabar de vez a traição
sem fazer diminuir a vontade
da dor inclemente que vertia.
Eis o lampejo desta visão malquista...
Sonhos alados que desapareceram,
Volitarão para além da morte.
Lá ficaram os corpos caídos,
Mutilados, qual cera que derrama
Pela sarjeta do mal, pela lama,
Vertendo entre a terra e o asfalto
Toda a história do casal;
Contada desde o início, sem reflexão,
ou cogitação; apenas a biografia
de uma vida em especial.
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