Vago solitário e sombrio

Anárquico anão colosso

Nem tão são nem muito moço

Persigo meu desafio

De novo brilho encontrar

Que me tome em sua órbita

Cessando meu vagar

Por esse mundão sem porta


 

Por astro já fui tido

Sem nunca causar sensação

Por nome não sou conhecido

Talvez por planeta anão,

Ou por algum apelido...

Já tive a lua à mão...

Não que tenha merecido

Dela a menor atenção.


 

Dum velho sistema apartado

Vivendo numa de horror

Por pouco fui premiado

Com fonte de novo calor

Até me pus a fazer planos

Ver-me o verde renascer

Ter meus próprios oceanos

Quiçá rejuvenescer...


 

Espere que irei lhe contar

Como tudo aconteceu

Desde aquele longo olhar

Que meu solo estremeceu

Na visão ultra-estelar

Áurea esperança se deu

Duma estrela me vir resgatar

Tornando-me astro seu.


 

No silencio do meu caminho

Único favor me foi dado

Observar o lindo ninho

Do universo ao meu lado

Tudo está em movimento

Mas é como estar parado

De novo só o momento

Repetindo o mesmo enfado.


 

Opa!...  Eis que de repente

Algo novo me anima

Lá bem longe à minha frente

Do horizonte um tanto acima

Uma mescla de luz rosada

Com raios em lilás intenso

E de prata areolada

Pôs-me até o girar suspenso


 

Era uma estrela tão linda

Reinando no firmamento

Acenando-me com a vinda

Do calor em movimento

Antevia tê-la chegando,

Acolhendo-me em seu ventre

Minhas sombras clareando

Livrando-me o frio finalmente


 

Daquela luz me enamorei

E ela a mim foi chegando

Com todo ser a desejei

Adorei-a com ardor humano

Minhas manhãs aqueceu,

Adornou-me das noites o céu

Despertou-me noutro apogeu

A quem se apagava ao léu.


 

Dia a dia foi crescendo

Já me sentia em sua atração

E fui deslumbrado cedendo

Alheio a toda razão

No seu manto me envolvi

Mergulhei-me sem receio

Esquecido de mim me vi

Por mais de ano e meio.


 

Vesgo se fez meu olhar

Sem notar que a direção

Dos raios do seu brilhar

No domínio da ilusão

Avançava sem se importar

Com o rufar dos meus tambores

Lá ia sem se encantar

Com meus versos e favores


 

Como pode?... me perguntei

Não terá ela me visto?

Não tomou o que entreguei?

E por mais que insisto

Não atino côa razão

Que a faz dobrar o vento

Alterar-se a direção

Frustrando o alinhamento

De sua luz com meu torrão


 

Foi então que acordei

Da pasmaceira que me tinha

Pondo-me atento divisei

Atrás dela a densa linha

Da calda de longo trilho

A lhe seguir em retreta...

Não era de estrela seu brilho:

Cegou-me um fugidio Cometa


 

Desfruto ainda o vigor

Do sonho que me aqueceu

Fico a rogar-lhe o calor

Na tristeza que me abateu.

Dele espero, sem maldade,

Que, mesmo sendo ilusão,

O Cometa me tenha piedade

E me arraste por esse mundão.

 

Manito O Nato
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