O deslize da minha essência

Pegaram-me em um momento de fraquesa,
No flagrante da minha iniquidade.
No espinho da minha carne,
No deslize da minha essência.

Alguns religiosos me cuspiam no rosto,
Outros me chutavam,
Me chamando de pecadora,
Imoral, impura... prostituta.

A maioria deles queria a minha morte,
E eu certamente sabia que morreria.
Seria apedrejada pela minha transgressão,
Pelo pecado enraizado em meu ser.

Gritavam alto a respeito
Da Lei de Moisés
Que ordenava que eu fosse morta.
Que eu fosse apedrejada.

Seus olhos demonstravam ódio,
Suas mãos pesadas me empurravam tanto que
Meu corpo ficou todo dolorido,
Todo retorsido pelo medo e pelo arrependimento.

Quando percebi, estavam me levando para o templo e
Chegando lá, ví um Homem, talvez um mestre,
Que ensinava ao povo com amor, com carinho
E com um brilho imenso em seu rosto.

Ví que aquele era meu fim, pois,
Todos os religiosos estavam
Preparados para me apedrejar,
E tirar a minha vida.

Me jogaram para o meio do povo que alí estava e
Disseram ao Homem:
Esta mulher foi apanhada em flagrante adultério e
A Lei de Moisés manda apedrejala. E Tu, o que diz?

O silêncio tomou conta do templo.
O Homem, baixou sua cabeça
E começou a escrever no chão.
Ninguém entendeu.

Uns começaram a gritar:
Ele não sabe responder,
Vamos apedrejala rápido,
Ele não sabe nada!

Levemente Ele ergueu Sua cabeça,
Olhou para os que estavam em sua volta e
Com uma voz suave e mansa disse:
Aquele que entre vocês não tem pecado, atire a primeira pedra.

Baixei minha cabeça,
Pois sabia que os religiosos
Se achavam auto-suficientes e ví
Que logo receberia a primeira pedrada.

Diferente do que pensei,
Comecei a ouvir passos que estavam se afastando.
Quando levantei a cabeça,
Só havia restado eu e o Homem.

Então Ele me perguntou:
Mulher, onde estão Teus acusadores?
Ninguém te condenou?
Respondi: Ninguém Senhor, ninguém...

Calmamente, olhou para meus olhos
E com muito amor disse:
Nem eu te condeno;
Vai e não peques mais.