Tudo nesta vida tem um invólucro
Nos arredores da alma, um sepulcro
Algo preso, como presa é a voz
Um grito mudo, um grilhão atroz
 
De todos os vilões, pior é o tempo
Que permeia a vida, deteriora o corpo
Domina tudo e a todos escraviza
Não para nunca, não perdoa, nem suaviza
 
Outro empecilho mordaz é a solidão
Que navega no peito e na vida
Sangra a mente e, em sua missão
Mostra que o tempo se vai sem medida
 
Junte-se à formula fatal e já dita
Uma pitada de inveja, a doença da mente
E nessa associação de elementos, desdita
Dissolvem-se os sentidos, infelizmente
 
Mas, se tantos nesta lida estafante
Dissertaram sobre sentimentos menores
Aterei-me ao tempo cruel, serei infante
Pois o tempo, para mim, é o pior, dos piores
 
 
Não creio em divagação, só razão
Pois o tempo, em sua sanha voraz
Nos mostra as verdades e então
Até alguma razão ele traz
 
Age sobre o corpo e a mente
Demonstra o passado e o presente
Só o futuro ainda lhe trai
Mas depende dele, à medida que vai
 
E em toda a simbologia do mundo
Anos, meses, semanas, dias, horas, segundos
Há a contradição eterna que salta
Aos olhos dos homens, do tempo peralta
 
Pois que o tempo que marca a vida
Por ironia de Deus e não tem saída
Posto que o tempo para ser medido
Preso será e estará dividido
 
E se, passada a vingança do tempo, maldito
Vingança maior se vê nesse momento
Quando os olhos humanos o vêem aflito
Na ampulheta retido, nas areias do tempo

Pela vida

Alexandre de Azevedo
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