Cego

Eu desejei pelo simples desejar.
Sem querer, por não querer.
E pela indolência deixei de amar,
Renunciando o viver, ocultando o sofrer.

Fui dessa maneira, feliz.
Feliz por viver, assegurando as tristezas,
Do tipo que não se enxerga em vão,
Lutando sem critérios pelas incertezas.

Fui incompassível
Na inconstância de uma traição própria,
Culpado, cúmplice pelo inadmissível,
Renascido de uma mentira, vivendo uma verdade.

Isso tudo passou... Agora, que venha o futuro.
Sem temer o sofrer, o querer.
E digo isso olhando nos olhos dos que não enxergam,
E nos olhos de um cego que melhor sabe enxergar o próprio ser.

Sou tão cego quanto o cego que me enxergou.
Não preciso mais olhar para nenhum sofrimento.
Não preciso mais escutar nenhum clamor.
Você, também, que somente me faz viver amando, com amor.

Estocolmo, Suécia

Carl Dahre
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