Em sua idéia, matava pombas
Suas armas, as mais sutis
Que de tão leves pesavam
Em sua boca, em sua mente infeliz
Somente atirava em pombas
Quando via-se ameaçado
Teria medo em sair das sombras
Ou mais buscava viver afastado?
Matava incredulamente
Pondo a dúvida às pombas novas
E a sátira às outras, seguras
(Mal sabendo que não há provas
As quais pombas de fato puras
Não venham a suportar...)
Matava sem questionar
Sua anti-fé que insistia o gatilho
E lia sempre, absorto:
"Quem fez pombas, um delírio"
"Quem fez pombas está morto"
"Absurdo, ilógico, ilícito
Às leis da ciência que estuda pombas!"
Então vinha com bangs e bombas
Se metia em grande explosão
Tentava tanto, e apenas isso,
Fazer-se não crer -submisso
Às próprias armas e sombras-
Que matava-se
(A si... Mas jamais às pombas)
Foi quando de fronte erguida,
Procurando algo mais a matar,
Viu a única Pomba ferida
A primeira que vinha a sangrar
A mais calada, e a mais sofrida
Tão singular, qual o que a mandou,
Pois voôu para o alvo de ser atingida
A esta sim, o homem matou.
E matando, voltou a ler
Ocupado demais pra saber
Que a Pomba outrora estendida
Ergueu vôo, por eterno motivo
Ainda que matem, as pombas têm vida
E quem fez as pombas... Está vivo!
Dedico aos leitores de "Deus, um delírio" e aos que leram qualquer coisa aí que Nietzsche (que está morto) escreveu e chamou de livro.
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