"Biblioteca do amor"

Fiz como o meu amigo me pediu:
Arranquei essa página da minha vida.
Então ele logo descobriu 
Que não era bem essa a saída.

Eu cumpri com o combinado,
Mas a próxima página era como a anterior,
E o meu amigo ficou assustado 
Quando viu que na minha vida tinha um livro de amor.

Se arrancar as páginas não adiantaria,
Que tal queimar o livro inteiro?
Acendi o fósforo como quem já sabia
Que esse livro só seria o primeiro.

Quando das folhas só as cinzas sobraram,
Dois gritos de alegria o meu amigo soltou,
Mas dos seus gritos nem os ecos restaram
Depois que um novo livro ele encontrou.

Desconfiado, outro fósforo ele acendeu,
E não demorou muito para encontrar outro livro igual.
Queimou tantos que até nas cinzas se perdeu,
E cansado, disse-me: "Isso não é normal!"

Com muita pena do meu amigo eu fiquei,
Até porque ele só queria me ajudar,
Então a solução na mão dele entreguei:
Uma chave que faria o meu coração se escancarar.

Ao abrir a porta o meu amigo se assustou,
Havia em meu coração centenas de livros guardados,
Então a biblioteca inteira ele queimou,
E comemorou ao ver que todos os livros estavam queimados.

É... mas eu tenho algo para dizer,
E que me perdoe o meu amigo!
Teve um beijo que nunca irei me esquecer,
Pois aquela página eu guardei comigo.

Rogerio dos Santos Rufino
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