Retrato fiel

Por toda cidade, Rio de Janeiro.
Que maldade, que falta de dinheiro.
Tem mãe botando filho pra vender, pra trabalhar.
Melhor do que roubar.
Mas, isso é covardia.
Criança na batalha toda hora, todo dia.
Precisa estudar.
Precisa ser alguém.
A rua não garante o futuro de ninguém.
E vai chover, melhor se proteger.
Num teto seguro, sem desabamento.
Longe das encostas e do sofrimento.
Em Copacabana, o jantar está na mesa.
Na Barra da Tijuca, já se fala em sobremesa.
Mas, não é sempre assim.
A mão no lixo condena o absurdo.
Um prato de comida parece coisa de outro mundo.
Tem gente com fome por aí.
Mendigando arroz e feijão.
Procurando um pedaço de pão.
Rio de Janeiro, Rio do desespero.
Suas belezas estão cercadas de necessidade.
Retrato fiel.
Que registra o abandono.
Uma noite de sono.
Uma família inteira dormindo na calçada.
É realidade, acontece de verdade.
Não tem lazer, não tem o que comer, nem onde dormir.
Essa gente quer viver, aprender, quer sorrir.
Tirar dos ombros, o peso da indiferença.
Um grito, um pedido de ajuda, uma crença...