INVERNO NO SERTÃO

O caboclo nordestino é pré-destinado:
Se a invernada por aqui é promissora,
Ele está sempre cantando no roçado
E, assim, vai cultivando sua lavoura.

Um inverno pra ser bom basta três meses
De chuva grossa ou, ao menos, molhadeira,
Para depois desse prazo muitas vezes
Ter legume pra comer a seca inteira.

As estações aqui têm outro compasso:
São só duas, que é o inverno e o verão.
O inverno vai de janeiro até março
E o verão até dezembro, chove não!

Se o inverno é muito bom começa cedo,
Em dezembro, e também termina tarde,
Em abril ou até maio, digo sem medo,
E é legume pra dois anos, sem alarde!

Os córregos dão riacho, açude sangra,
Cresce a rama e logo se fecha o mato,
Quem tem gado pega ele e põe na manga
Pra dar leite com fartura no bom pasto.

Fim de inverno, a colheita é feita, pois,
Vem o milho, a macaxeira e o feijão,
A batata, a fava, o jerimum e o arroz,
E mais tarde vem a safra do algodão.

Dessa forma o caboclo ri à toa
E se sente uma pessoa bem feliz!
Tendo inverno e uma safra boa,
Nunca mais fugirá pro sul do país.

Autor: José Rosendo

Nazarezinho, 04 de agosto de 2006