" E em vão o sonhador remexe nos seus antigos sonhos, como se ainda procurasse no rescaldo uma centelha"

" E em vão o sonhador remexe nos seus antigos sonhos, como se ainda procurasse no rescaldo uma centelha"

“ (...) Sentimos que, por fim, essa mesma fantasia que parece inesgotável, há de esgotar-se na sua eterna tensão, pois vamos nos tornando mais viris e amadurecidos, e superamos os nossos antigos ideais, que se desvanecem e se reduzem a palavras e a pó. E, se depois não houver outra vida, temos de nos pôr a reunir os restos desse entulho para com eles voltarmos a refazê-la. E contudo a nossa alma reclama e anseia por alguma coisa completamente diferente. E em vão o sonhador remexe nos seus antigos sonhos, como se ainda procurasse no rescaldo uma centelha, uma só,  por pequena que fosse, sobre a qual pudesse soprar, e com a nova chama assim ateada aquecer depois o coração enregelado e voltar despertar nele o que dantes lhe era tão querido, o que comovia a nossa alma, e nos arrebatava o sangue, aquilo que fazia subir as lágrimas aos nossos olhos e que era uma ilusão tão bela."

Dostoiévski - Noites Brancas

Eloisa Alves
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