Velhas fotografias

Velhas fotografias

 

Velhas fotografias,

Relíquias perdidas na memória,

Lá estamos nós

E, no entanto,

Já não somos nós.

Nós, se reduziu em número,

O plural é cada vez menos intenso.

Se houve tempo que acrescia,

Hoje, nós, é uma redução continua,

Uma subtração que costuma doer,

O saldo de ‘nós’ de reduz.

Velhas fotografias,

Tantos significados de um mundo já ido,

E ao conjugarmos o verbo,

Se faz cada vez mais no passado,

Pois o pretérito passa prevalecer sobre o futuro.

Estranho é este definhar ponteado de algumas alegrias,

Mas que insuportável seria se tudo fosse tristeza.

O realismo e a finitude

Parecem sempre brigarem entre si.

Numa luta entre a ilusão do ‘para sempre’,

E descoberta de que ele também ‘acaba’.

Ah, por que o fim tem que ter tanto significado?

Se ao finalizarmos uma sentença basta um ponto final?

Bem isto, umas tantas exclamações,

Um amontoado de interrogações,

E ao invés de reticências,

Um lúcido e objetivo, ponto final.

Como sermos objetivos ao sermos sujeitos?

Ser o sujeito, eis a questão!

Cada sujeito parece ser um universo a parte,

Universos em expansão,

Sonhando com a utopia da harmonia,

Mas sendo em verdade intenso caos.

E qual seria o poder efetivo de cada vontade?

Até onde livre arbítrio, até onde destino.

Seria um livro a ser escrito,

Ou um roteiro já pronto.

Ditariam os astros celestes

Em seus ângulos sentenças matemáticas,

Com ilusão de finito a se pensar infinito?

Ou seria ao contrário,

A ilusão de eterno a se colocar sobre o efêmero.

De fato, vivemos caos,

De fato, vivemos o limitado.

Eis que musicais harmonias são a exceção

E não a regra.

Eis que o ilimitado é apenas reflexo de nossa ignorância,

E bendito seja o nosso ignorar.

Pois do que sabemos já basta para nos perturbar.

A mente divaga aceleradamente velhos livros,

Letras se misturam com imagens fotográficas,

Palavras tomam cores das mais sentidas emoções,

E ‘nós’, haverá de cada vez mais ficar mais só,

Um dia ego querendo tudo,

Que no crepúsculo da vida seja um eu a conjugar,

Não apenas pela ação do corpo que declina,

Mas pela agitação da mente que transborda.

E então só, vejo a profundidade do céu noturno,

Lembro do poeta, e ouço estrelas,

Rio-me de quem ri de mim,

Eles pensam que me julgam,

Infelizes,

Se soubessem como

Que humildemente os tenho em indiferença.

De fato, não me entenderiam,

Pois que não se trata de orgulho,

Mas apenas um suposto saber

De o quão o pouco eu sou,

Enquanto estes que se julgam ser tanto,

Desconhecem o pouco que são.

 

10/12/2022

Gilberto Brandão Marcon