Sombras de Luzes

 

Minha alma atemporal

Zomba de mim,

Ri com ironia

Das minhas migalhas de cotidiano.

Vê o distante,

Para depois ocultar.

Me envia mensagens,

Garrafas de náufrago

E eis que o naufrago sou eu.

Não é as águas salgadas do mar,

Mas um oceano de retalhos.

Relíquias de memórias,

Que de tão ressignificadas,

Já não sei se verdadeiras,

Ou meros mitos pessoais de mim.

Não me lamento de nada,

Não há tempo para isto,

Aliás, a sensação é que nunca há tempo.

Pois é a escassez que faz surgir a identidade.

Qual face é a minha

Dentre as tantas imagens

Que os espelhos refletiram?

Deleito com um nada imaginário,

E no vazio pareço encontrar o todo,

Tal como a insignificância

Parece nutrir toda a grandeza da vida.

Nada eu explico, pois não quero explicar,

Não quero definir, pois me diverte o indefinido.

Melhor do que a criação,

É o momento da potência criativa.

Brinco entre brisas e vendavais,

Entre chuvas finas e tempestades.

E penso que o fogo da fênix que me assombra

É antes frio gélido que queima

Do que calor que aquece.

E eis que neste encontro comigo,

Me perco num fluir sem fim

Em fuga me liberto de metas e objetivos

Deixo de me preocupar se existe um propósito.

Existo e ponto, até que não mais esteja.

E rio de quem me pensa perdido

Pois tenho a convicção de assombrar.

Sombras feitas de velhas luzes,

Lampião de chama bruxuleante,

A mesclar-se em luz de raio laser

Numa explosão de tempo

Em que partes de passado

Se encontram no futuro

E na loucura de ser

Faço pousada na lucidez

Em consciência

De suposto presente

Onde habito momentaneamente.

17/11/2022

Gilberto Brandão Marcon