A vida é um negócio estranho,
Pois passamos o tempo todo
Tentando aprender a viver,
Mas morremos a cada dia
E não aprendemos a morrer.
Em que pese esta ser o momento derradeiro.
Pois que no início, o nascer, há que sorrir,
Pois que pelo princípio do prazer,
Buscamos pela felicidade
E passamos a vida a evitar a tristeza
E ela por fim acaba triste.
Não cabe aqui qualquer sentir deprimente,
Mas mero constatar de realidade sem véus,
E bem se sabe,
Que tanto se faz necessária
A esperança para encantar,
Quanto à razão por nós construída,
Estes seres com livre arbítrio
Parece tudo desencantar.
Pois embora o saber tenha o lúdico da aventura,
Tenha algo de pulsante juventude,
Em sua maturidade tende a ser sabedoria,
E esta demanda que não nos apeguemos.
Pois que todos, por destino, seremos despossuídos.
Eis que não pretendo ser fúnebre,
Pois que pouca ou nenhuma graça vejo em velórios,
Mas hei de fazer-me justo ante a memória do ido,
Que dia destes serei eu próprio.
E então, sabe-se lá,
O que minha ‘memória’ achara disto.
E nisto vejo algum humor,
Talvez uma sórdida ironia,
Um trago indecente num bebericar de sarcasmo.
Para depois contemplar melancólico ao Todo.
Pois que na melancolia
Está o mesclar da tristeza com a alegria.
E nós, creio que somos espécie
De ‘solução química’ destes dois sentires.
Assim, nem o muito que excede,
Nem o menos que se faz escasso.
Mas a tentativa de um utópico equilíbrio,
Que nasce predestinado a ser irrealizável.
Assim, um brinde a vida,
Pois que a morte brinda por si só,
E eis que dela fugimos em individualidade,
Para pôr fim, nela nos igualarmos
Querendo ou não,
Num suposto eterno protelar,
Pois que é apenas suposto,
À medida que serenamente
Se acaba por reconhecer como fato consumado.
09/11/2022
Gilberto Brandão Marcon
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