O sagrado e o profano.
A realidade e a ilusão.
A prosa que se faz verso.
Uma trilha na floresta,
Em meio a mata
Os “Robin Woods” de cada dia.
Ao fundo de tudo,
Uma grande construção,
Um velho e abandonado mosteiro.
Em torno dali,
Cavaleiros em seus ginetes,
Guerreiros vestindo suas armaduras.
Lutas e mais lutas.
Batalhas e mais batalhas.
De combate em combate,
A guerra sem fim.
A posse pela posse.
A avidez sem controle.
O ímpeto lesivo pela conquista de territórios.
E por um limitado retalho de terra
O desperdício de muitas vidas humanas.
O sangue adubando o solo.
E do barro foi feito
E ao barro retornará de alguma forma.
São imagens do passado
Que insistem em tornarem-se
Em cruel realidade no presente.
A dor transmitida via satélite.
Uns trucidam-se, enquanto outros,
Congregam-se num almoço.
Alguém está morrendo de frio,
Enquanto outro morre
Sobre o calor do árido deserto.
Um está sedento de sede,
Enquanto outro debate-se
Numa luta inglória contra o afogamento.
Gira o mundo.
Gira um disco reproduzindo a música gravada.
Gira o tambor de uma arma.
Em meio a arte de construir,
A arte humana de destruir.
Escultura, pintura, poesia e o fuzil.
São amarelos que não gostam de azuis.
São vermelhos que não se entendem com verdes.
Tudo é motivo para tolo embate.
Legitima-se a estupidez e a brutalidade
Com ares de heroísmo.
Por detrás da maquiagem de civilização
Escondem-se velhas tribos belicosas
Cobertas de armas.
Pouco parecem adiantar
Os avanços da ciência
Ante a ignorância dos subconscientes.
Reúnem-se num mesmo momento histórico
A primitividade instintiva
E o poderoso saber científico.
Toda grandeza da promessa
De sonho no horizonte
É nada ante a cegueira da mediocridade.
Toda a reserva mineral do planeta
Não é suficiente
Para nutrir a voracidade por riquezas.
Nem as lágrimas das mães desesperadas
Pela perda dos filhos conseguem sensibilizar.
Quanto ao respeito pelo próximo,
Antes será visto como oponente
Cujo pescoço deve ser abatido.
Então, não havendo barreiras para tal raça,
Haverão de ser conquistadores interplanetários.
Entretanto, ainda não.
Pois antes haverão de erguer altares
Para louvar os próprios pecados.
Antes perverteram tudo que é bom e honesto,
Elevando a santo ou herói
Quem de fato é perverso.
E então o dramático
Terá algo de tragicamente cômico
E melancolicamente terrível.
Hão de misturar o sagrado
E efetivamente divino com
A velha magia elementar dos feiticeiros.
Haverão de construir pedestais
Para duendes e gnomos
Supondo-os verdadeiros profetas.
E a ignorância em grande erro
Será tomada por profundo
E superlativo conhecimento.
E toda tolice será julgada
Como fantástico saber.
E só o tempo será capaz curar as feridas.
Pois ante as encenações das velhas peças,
Das pobres representações no teatro da vida,
Legiões de seres humanos hão de buscar,
Pelo desespero dos perdidos, a consolação.
E, neste instante,
Talvez o velho mosteiro
Se transforme em fortaleza-castelo.
Desperte o seu sagrado espírito
Que estava há muito adormecido
Por estar esquecido,
Ganhando vida em meio à desilusão
De uma torpe miragem,
Reflorescendo como esperança,
Sendo ponto de reencontro
Para uma nova possibilidade
Que talvez possa existir.
16/03/1996
Gilberto Brandão Marcon
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