As vezes a saudade é tão ingrata,
Que nos visita em torno de futuro
Que não existiu.
Como que premunição nos rouba o presente.
Nos castiga com as dores da angústia.
E nós,
Meros viventes sem saber a razão de ser.
Cá ficamos a contemplar o nada,
Como se nele houvesse algo para se encontrar.
Quão bom seria,
Que apenas fosse nada.
Pois esta sina de ser exaure a mente,
Entre a eterna graça dos sentires,
E lápide fria da razão que desencanta.
Se faz necessário amadurecermos,
Mas quantos protestos da nossa criança interna.
Eis que não há paz nesta rebelião silenciosa.
Pois que o que se rebela,
Cala e consente a um só tempo.
E o tempo vive como
Que fugitivo dos relógios humanos,
Zomba das horas, ironiza o presente,
Dá as costas ao passado,
Arde em sarcasmos ante aos sonhos infantis.
Tal como um orador em um púlpito,
Declama sofismas que dilaceram as verdades.
Ah, as pudicas verdades,
Perdidas entre suas vestes de absolutas ou relativas.
Não sabendo de si,
E tudo querendo ser em significado.
Um roteiro perdido dentre tantos outros,
Num unir de fragmentos surreais
Que se fingem de incontestáveis.
Como seria cômodo acreditar,
Mas eis que em tudo que se crê
Se converte em automática alienação.
Não há como não se alienar a algo.
Não existe a liberdade integral,
Seria tão infantil, quanto tolo, crer nisto.
Em existindo, seremos prisioneiros de si.
Amarrados por nossos sentires,
Algemados por nossos pensares,
Aprisionados em nossas vãs vontades.
E todo dizer haverá de trazer sempre o não dito,
Pois que o alívio parece estar no inexistente
Pois que em não sendo é o puro em sua integralidade.
É intocado, é ideal e por isto não existe.
Então que se queira a perfeição,
Eis que esta é a vontade da imperfeição,
E tudo isto faz com que o tempo se perca,
Não se encontre,
Não queira mais ser momento,
Daí talvez a saudade,
De um futuro que nunca existiu.
Gilberto Brandão Marcon
02/11/2022
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