A Natureza como a religião dos poetas

A Natureza como a religião dos poetas

 Sobre estar doente

" (...) Examinemos a rosa. Nós a vimos em flor, tantas vezes, nos jarros, tantas vezes ligada à beleza em seu apogeu, que nos esquecemos de como ela se mantém na terra, quieta e firme, ao longo de toda uma tarde. Ela mantém uma atitude de perfeita dignidade e autocontrole. A sufusão de suas pétalas é de um rigor inimitável. Agora, talvez deliberadamente, uma delas cai; agora, todas as flores, as de um púrpura voluptuoso, as cremosas, em cuja polpa encerada uma colher deixou cair um filete de calda de cereja; os gladíolos; as dálias; os lírios, sacerdotais, eclesiásticos; as flores com seus solenes colarinhos de cartolina em damasco e âmbar, todas elas gentilmente inclinam suas corolas em direção à brisa – todas, com exceção do pesado girassol, que orgulhosamente aceita o sol ao meio dia, mas, talvez, à noite, rejeite a lua. Ali elas se postam; e são elas, as mais imperturbáveis, as mais autossuficientes de todas as coisas que os seres humanos tomam por companhia; elas que simbolizam suas paixões, enfeitam suas festas e ficam (como se entendessem de sofrimento) sobre os travesseiros dos mortos! É maravilhoso poder dizer que os poetas encontram na Natureza uma religião; que as pessoas moram no campo para aprender a virtude com as plantas. É em sua indiferença que elas são reconfortantes. O campo nevado da mente, onde o homem não pisou, é visitado pela nuvem, beijado pela pétala que cai, tal como, em outra esfera, são os grandes artistas, os Miltons, os Popes, que consolam, não por pensarem em nós, mas por nos esquecerem."


 Virginia Woolf - O Sol e o Peixe ( Prosas Poéticas)

Eloisa Alves
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