Príncipe da Paz
O elemento religioso sempre esteve presente em todas as culturas, sendo motivo de perseguições e conflitos. Em nome da religião, etnias inteiras foram dizimadas, mulheres foram jogadas na fogueira, guerras se perpetuaram e ainda hoje o mundo se divide por conta de verdades supremas.
A verdade parece ser a única coisa que os adeptos religiosos não querem relativizar. Todos são ecumênicos, até que não pisem em seus calos. O ecumenismo vai até um determinado ponto. Se fugir desse ponto, tudo volta à estaca zero.
O primeiro homicídio se deu por ciúme religioso. Por um ato simbólico, Deus demonstrou o quanto estava feliz com a oferta de Abel e isto foi o suficiente para que Caim o matasse.
O sangue de Abel, derramado por capricho de um irmão ciumento, representa o sangue daqueles que ainda continuam morrendo pelo mesmo motivo.
Matar por religião é paradoxo! Contradição! Discrepância com a mensagem gtenuína de Jesus Cristo.
Se os líderes religiosos atentassem para os ensinamentos de Jesus e pregassem a essencialidade do Evangelho, o mundo estaria em paz. A tolerância e a compreensão seriam as marcas deste século.
Se os líderes religiosos compreendessem o papel deles no mundo e ensinassem aos seus seguidores o caminho da paz, as atrocidades em nome de Deus deixariam de acontecer.
Se os líderes religiosos lessem a Bíblia mais atentamente, aprenderiam com a estrela de Belém. Estrela Convite, que trouxe os magos lá do Oriente para serem participantes do evento mais sublime da História – o nascimento do Filho de Deus. Esses magos representavam todos os povos, todos os credos, todas as etnias. Na ausência de um meio de comunicação eficaz, serviu para anunciar ao mundo o nascimento do Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, o Príncipe da Paz.
Tal nascimento não ficou restrito aos judeus. Sábios do oriente e pastores da redondeza foram testemunhas oculares do acontecimento que mudou o mundo. Por isso não se pode montar presépio sem os magos. Eles foram os representantes dos gentios, convidados pelo próprio Deus para uma ocasião sem igual. Para solenidades importantes, pessoas importantes.
Os magos levaram presentes dignos de um rei. Presentes que ajudariam a cobrir as despesas de viagem para o Egito, quando Herodes, por ciúme intentou matar o menino. Os presentes salvaram a vida daquele que seria o futuro Salvador. Que trocadilho! Então, nós os gentios, representados através dos magos, ajudamos a manter Jesus vivo, até que Ele pudesse cumprir a sua missão morrendo na cruz. Aliás, foi entre os gentios que Ele se refugiou. De certa forma – me sinto até constrangida em escrever isto - mas, nós O salvamos, para que Ele nos salvasse depois. Se morresse menino, não seria holocausto na cruz, em vão seria a nossa fé.
Aonde eu quero chegar com  esta história toda? Quero tão somente dizer que todos os povos são importantes para Deus e que Ele demonstrou isto através do nascimento do Seu Filho, convidando os magos, representantes dos povos. Eles deveriam ter suas próprias práticas religiosas, diferente das dos judeus, mas isso não os impediu do momento essencial e mais sublime da História dos homens.
Esta é a questão! Os gentios, os que não eram judeus, preservaram a vida do filho de Deus. O Egito, politeísta, foi refúgio para abrigar o Menino Jesus. Eis a razão da tolerância religiosa.
Hoje, ainda á muito preconceito. O evangélico que não entra em Igreja Católica, católico que não assiste à palestra espírita... Tem de tudo! Eu duvido que um crente entre numa loja de produtos umbanda para comprar uma erva que esteja precisando. Não entra!
Jesus, quando formou o Colégio Apostólico, fê-lo baseado nas diferenças. Os discípulos tinham concepções doutrinárias distintas. Pertenciam a grupos religiosos peculiares: fariseus, saduceus, herodianos, escribas, entre outros. Na sua sabedoria, soube administrar a diversidade. Não tenho conhecimento de discussões teológicas onde Ele tenha tomado partido. Ao contrário, ele defendia os que religiosamente eram excluídos – no caso os samaritanos.
Sou evangélica, mas não vou seguir a tradição e a cultura evangélica. Vou viver o Cristianismo do meu jeito. Não preciso que ninguém legitime a forma pela qual cultuo a Deus. Não concordo com uniformidade. Se uniformidade fosse o forte de Deus, Ele não criaria seres tão distintos.
O maior desafio que o Mestre nos deixou foi o convívio com a diversidade. A cultura, que é a forma de expressão de cada grupo é que muitas vezes distorce o essencial. Os judeus, por exemplo, guardavam o sábado tão zelosamente, que este passou a ser mais importante do que a própria vida. Jesus percebeu isto e lhes ensinou que “o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Este foi apenas um exemplo, mas têm tantos outros que provam que temos colocado doutrinas, tradições e costumes acima do essencial. Faz-se necessário buscar o sentido dessas práticas para ver se estão atrapalhando o entendimento entre os homens.
John Scott, um teólogo do passado, deixou a célebre frase: “Nas coisas essenciais, unidade; nas não essenciais, liberdade; e em todas as coisas, amor."
Se Jesus e Scott fossem postos em prática, judeus e samaritanos andariam de mãos dadas; palestinos e israelenses compartilhariam suas terras; padres e pastores fariam juntos seus cultos; e o sangue daqueles que morrem por ciúme deixaria de clamar na terra por justiça.
Atentemos, pois, para o sentido do que diz Isaías: “Porque um menino nos nasceu e um Filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”
Sermão escrito por Selma Nardacci – Professora de História e Ensino Religioso do Colégio Barão de Santa Maria Madalena.

Selma Nardacci dos Reis
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