Extremistas e Extremamente sem Zelo

 Extremamente sem zelo
O privilégio de estudar numa Universidade e ter acesso a disciplina de Antropologia despertou o meu interesse pelas mais diversas culturas existentes no mundo. Culturas do passado e do presente.
Fora da Faculdade, talvez eu não tivesse entendido tão bem o significado de etnocentrismo e relativismo cultural; foi lá que aprendi o conceito dessas duas palavras que carrego como pérolas importantes na interpretação do universo cultural que me cerca.
Etnocentrismo, do que guardei na mente, desde a época da faculdade, é interpretar a cultura dos outros tomando como base a própria cultura. Dando exemplos, para se compreender melhor:  Olhar o outro e ter preconceito dele, porque ele não parece comigo, não faz as mesmas coisas que eu faço e não vê o mundo como eu vejo. Aversão às diferenças.
Relativismo seria o remédio para combater o etnocentrismo. Relativismo – entender o outro tomando como base a cultura dele e não a minha. Fácil!  Até aqui tudo bem.
Mas, o tempo tem passado e tenho percebido uma coisa interessante no ocidente, relativizamos tanto que perdemos a identidade. Não sabemos mais quem somos. Então todos aqueles que ainda preservam suas identidades nos causam inveja. Sim porque de tanto relativizar perdemos a essência. Nossas mulheres foram banalizadas, nossos profetas foram ridicularizados e passamos a viver em uma grande feira, onde tudo está sendo barganhado a preço irrisório.
Faltam-nos extremismos. Isso mesmo! Não estou blefando! Não o extremismo  para tirar a vida dos outros, mas o extremismo para defender nossas causas. Reclamamos dos extremistas, mas esquecemos de que somos extremamente sem zelo por tudo aquilo que deveria nos representar.
Moramos em um país que só fala de futebol e carnaval. Na época da Copa: “Todos juntos em torno de um único propósito”. Se usássemos esse mesmo empenho em outras áreas das quais estamos carentes, seria um grande avanço.
Eu tinha certo orgulho de Cuba, por manter pé firme na condução de sua história. Hoje estou frustrada. Não por causa das boas relações que ela terá com o mundo, mas porque vai entrar no rol dos que se entregaram. Em pouco tempo não falaremos mais em charutos cubanos e médicos sem fronteiras. Os médicos ficarão por lá mesmo e abrirão clínicas particulares e ganharão rios de dinheiro. Tudo igual!
Os extremistas têm elementos significativos no bojo de suas culturas, lutam pelo que consideram importante...  Nós não temos nada. Substituímos nossos extremismos pelo confortável sofá da sala, e só estamos esperando o mundo acabar para confirmarmos nossa extrema falta de zelo.
 

Selma Nardacci dos Reis
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