Eu estou precisando me expressar com as palavras agora, tem hora que chegamos a um ponto que é impossível continuar caminhando sem antes analisar nossos propósitos, nos avaliar, é isso que quero fazer agora.
É possível que eu não exponha nem um terço do que eu gostaria, é provável sim que pelo menos alguma coisa me sirva de consolo, de apoio.
Às vezes fazer isso é um compromisso inadiável, outras quase que um suplicio continuo de se abrir, de me descobrir através destas linhas, talvez eu só queira estreiar a minha nova caneta, ou quem sabe, examinar se os livros que ando lendo estão á fazer algum efeito, esse tipo de raciocínio me entrega completamente, me desmascara. Talvez eu só queira descansar o meu corpo-mente, então porque razão optaria por isso, se isso me cansa intensamente?
Estou me sentindo péssima entre os outros, pra chutar o balde logo de uma vez, “Estou me sentindo pouco entre os outros”, quando estou sozinha, minha vida passa tão sem graça, vazia, mas acontece que há muito não me encontrava sozinha, mas nem por isso deixei de estar. Os meus amigos não fazem aquele estilo “companheiros”, sofro a ausência deles o tempo todo. Mas eu andei vivendo por aí, busquei forças dentro de mim pra enfrentar a minha solidão, em qualquer lugar que eu fosse. Contudo isso, eu ando pensando pouco em mim, perdi por aí, em algum lugar a minha vida de antes, estou em outra; apesar de ser bom, eu sinto uma dor tão aguda de tanta saudade de algumas coisas que se foram, que não sei o que é.
Fazia tanto tempo que eu não cavava dentro de mim esse tipo de sentimento, que é todo contraditório e que o tenho em excesso á ponto de mil lágrimas serem capazes da ousadia de tocar-me as faces. E esse frio que me arde o corpo sofregamente todos os dias é também o que me cala a alma quando ela mais almeja se expressar. Não sei se estou sendo profunda o suficiente pra me fazer entender, ou lhe fazer, tanto faz, a amargura que me cerca o ser. Por mais coisas lindas que eu já tenha visto, que eu tenho com elas? Que eu tenho com qualquer coisa alheia? – Nada. Nada me pertence, nenhuma maravilha é bela o suficiente pra alguém que tem medo; medo de perde-las a qualquer instante, não é isso! Eu quero dizer outra coisa; que me importa a beleza, se o medo que eu tenho de arriscar me sucumbe; também não foi dessa vez, deixa me ver...
Que me adianta a beleza da vida; sabendo que todo o meu ser ama, sabendo que eu não passo de solidão, sabendo que mesmo me dizendo isso, mesmo na minha tristeza diária, eu contemplo tudo o que é belo; mas de que me serve qualquer outra coisa no mundo se eu vou ver se partir o céu dos meus sonhos.

14/06/04