No meu mais profundo sentir

Minhas lágrimas são quentes; tão quente quanto o amor que despeja sua cólera em mim, justificando esse choro de saudade, numa noite tão distante daquelas em que seus braços se confundiam com os meus, naqueles abraços tão nocivos à minha razão. E não volta, tão pouco continua, a não ser esse meu calar, nesse meu árduo oficio de não adormecer à fim de explicar-me o por quê de meu peito parecer estar sendo corroído a cada minuto, escrever, escrever, determinadamente, sufocadamente, sentir, oh, esse meu sentir tão profundo, ver o quão seleto é este dom de “ver”, “sentir”, “amar profundo”, “numa vida profunda”, nesse sentir profundo, sem poder amenizar esses meus soluços, porque as recordações me devolvem a um estado de completa demência, condição da qual não me liberto porque o infinito deslumbramento não é privilegio de muitos; Oh sentir amargo, que mergulha num mar de encantos, e se afoga nas cinzas do silêncio.
Oh meu mais profundo sentir, digo-lhe mesmo com estas palavras banhadas em sonhos, porém nua de contentamentos, que não é só a insônia que me detém de alcançá-lo, e sim, tudo o quanto ainda não for futuro para nós.

28/07/04