Nem Pessêgos e nem Cerejas

Não! Eu grito internamente, não! Por favor, não!
A dor não é saborosa e por isso não deve assumir a forma das cerejas ou dos pêssegos...
Eu estou sangrando e nunca me pareceu tão real, tão a ponto de me enojar, judiar tanto assim de um amor pleno em inocência e verdade. Minhas veias secam, minhas lágrimas ocupam-se de reinar meio a elas.
No! Honey! Please! Help-me!
O amor não foi feito pra ferir, entenda, ele precisa de ar pra não se debater, não romper de vez com a luz, com todo o azul que o céu produz, pra não cair à ponte que só mantém-se erguida para nós.
Querida, destituir assim meu coração não é aprazível e nem elegante, não te vangloria em nada, reata-o longe deste vale submerso em pesar, reintegra-o por outras paragens, onde a voz do amor por nada cesse, onde seu continuo florescer jamais sucumba,
Onde seu estilo, forma e beleza sejam únicos, que nada haja de imundo, onde não haja pretensão de torna-lo inferior, onde ele não seja uma frágil presa. Retorne, retome, assuma o que não pertence a mais ninguém. Ressurja, faça com que meu corpo reaja, dê-me uma pílula reata-vida, uma vitamina que me devolva à cor de um sorriso adornado em essências e frescores de outras terras, de outros céus, de outras matas, de outros ares que não este sem os teus risos, teus tons de lírio, retire-me deste martírio, conceda-me um instante, onde nele eu humanamente te confesse, que a dor não possui um comemorável sabor, que o amor é mais profundo do que sutilmente transparece, que o horror está em suportar o teu não querer.
Não! E tudo internamente grita, exteriormente torna-se inerte, desprovido de conduta, má ou boa, de consciência, ativa ou inativa.
Por favor. Piedade, essa angustia me degrada, toda a falta de compreensão me deprava, seu punhal foi tão propicio, surpreendeu-me de fato, entoou em meu peito toda a amargura e terror existente, sem receio, rogo-lhe, misericórdia! Sem rodeios, faça logo as malas, realize o pendente e o restante jogue-o as traças, retome-os depois, pouco depois que nossos beijos puderem ser recordados, que nossos lábios um ao outro tenham declamado que O Amor é Tudo! Eu te adoro e a dor bem sabe ser geniosa e insensível.
Volte, e desenhemos juntas o nosso amanhã...
Se o seu terno olhar foi um adeus, eu prefiro que minha razão jamais regresse. Desejando mesmo, que nada no mundo iguale-se ou ultrapasse ao que se oculta por detrás dessa minha aparência, de ressaca, de débil paralisia conseqüente, de profunda morbidez assídua.Que nada mais possa ser tão violento, tão esquelético de compaixão, tão realçado por um choro cansado, sofrido, intangível. Sua delicadeza foi terrivelmente ameaçadora, e eu desapareci na imensidão do que teus olhos me propuseram. O pouco ar que ainda possuo é a brisa, medonha que me congela, parcialmente resta ainda o sol, um céu descolorido, impróprio para se ter um dia gracioso, o ar sob irreversível redução me cala, levemente... Muito devagar... Atira-me ao chão numa suavidade temível, numa euforia pecaminosa, me desgraça, rasga-me, intolerante dissabor, tortura felina.
Volte para mim, Querida. Termine com essa minha desmerecida sensação de torpor agudo, de uma injusta cela, úmida, de pequenas dimensões, onde minha alma se desterra, emerge sob trancafiado calabouço e grave profundidade.
Não, eu não quero abrir os olhos, não suportaria ver o quanto estou aterrada e só.
Resgata-me daqui, permita que eu agarre o calor que teus olhos me dão, o doce que teus olhos me dedicam. O sentimento que teu coração me propõe, silenciosamente e tomado de grandiosa expressão, deixe-me alcançá-lo, tê-la.
Sempre, sempre tua,

Ao receber a notícia de que minha amada havia partido para um outro país.

Em casa, 19 de março de 2005