Dialética quebrada

 

Olha aí vossa excelência

Apaixona quem não quer se apaixonar.

Sol e lua se encontram

Sem explicação ou lugar.

Vem uma mão com muita bonança

E junta dois em um olhar.

A rua é grande, o chão é o quadro

Que afasta o espasmo

Que o coração quer expressar.

Olhar desolado, sem sol

Ou brilho lunar

Com lágrimas espremidas.

Desce as colinas do Olimpo,

Semideus sem destino, sem trabalho,

Semideus morto dum lado.

Não acha nos cortes da carne

A chave do pecado.

Olha aí vossa excelência

Apaixona quem não quer se apaixonar.

Pela cidade

Não tem dia

Não tem hora

Algo retorna de dentro e invade tudo,

E destrói tudo,

E também constrói.

E se nega o que foi dito,

Rasga o escrito

E não diz a verdade.

Mas os olhos não mentem

Sobre o vazio da alma.

Ansiedade que transborda

Sem nenhuma explicação.

Algo vence n’ alma,

Algo não se amarra nas cordas

Do coração.

Faz a trouxa e sai do mundo,

Mas fica

Como palhaço triste na mira da multidão.

Olha aí vossa excelência

Apaixona quem não quer se apaixonar.

A mulher perfeita é um desenho

Que o homem nunca viu.

Os seios postos a mostra,

O circulo do quadril,

O bumbum como detalhe

Num entalhe do escultor.

O púbis rico e cheiroso

Que causa encantação.

Mostra-se a paixão, vela de fogo e de barco,

Que ascende, passeia e queima,

Leva o macho.

É fogo e é também algo acima dos olhos,

Que está atrás dos olhos,

Porque está além dos píncaros,

Pois está para deus.

E não está para o homem

Desolado e triste que não sabe encontrar

As pontas de uma reta

E ajuntar numa seta

Mas não para matar.

Olha aí vossa excelência

Apaixona quem não quer se apaixonar.