Foi um ano frustrante esse tal de dois mil e treze e começou pela quaresma. Desde que os últimos sons se extinguiram e o carnaval murchou de vez na quarta feira de cinzas tomei uma decisão corajosa e brasileiríssima: Encontrar um lobisomem nacional, o famoso licantropo vindo lá das europas afora e fixado no Brasil. Não foi tarefa fácil, caminhei muito a noite, nas horas mortas, por ruas, vielas, avenidas, sítios e adjacências e tudo isso durante quartas e sextas feiras, dias de pico segundo estudiosos, para ver e se possível entrevistar o danado do monstrengo. Em vão, cheguei, graças a minha pertinácia na investigação a ser confundido com um pois não houve local suspeito que não visitei. Necas do digníssimo, nem um filhotinho abandonado do mesmo encontrei.
Encaminharei ao IBAMA um requerimento solicitando a preservação da espécie. Não é crível que o mencionado tenha desaparecido assim sem mais nem menos, ele que, num passado recente, assombrava e amedrontava nossa gente especialmente na área rural, visitava casas onde havia crianças pagãs, atacava desavisados que, ao serem mordidos tinham até as doze badaladas para achar um remédio senão se tornariam lobisomens também até o fim de seus dias. Que remédio seria esse? Chuparia uma bala de prata?
As bruxas também não deram o ar de sua graça. Nenhuma para aperrear recém nascidos, sugando-lhes o sangue, montadas em sua vassouras e atravessando os céus em busca de vitimas. As ultimas que vi foi num jogo de caça niqueis que a policia local fez questão de confiscar no embalo das Leis que proíbem no Brasil jogos de azar, isso como se loteria de números não o fosse. Mas tudo bem, acabaram me informando que as bruxas atuais não tem mais aquele narigão com verruga, cabelo de manga chupada, faces encovadas, usuárias de roupas pretas. Frequentam, isso sim, salões de beleza, vestem-se no chique, são bonitas, apetitosas para os padrões atuais, nada daquelas coisas que a gente, quando criança, via em figuras e não dormia. Agora é o inverso, a gente as vê e fica doidinho para dormir com elas, vai entender.
Sobrou o saci, garoto provavelmente da região sul do Brasil, de cor morena e rabo. Azar o dele ter vindo para o lado de cima do Pais, onde perdeu uma perna e o rabo, ganhou um gorro vermelho e adquiriu o péssimo habito de fumar cachimbo que, dizem, está fazendo uma força danada para largar pois não aguenta mais a campanha antitabagismo. Gozador, dava agudos e longos assobios nas pastagens no meu tempo de criança além de, nas noites, galopar o lombo dos cavalos e fazer tranças em suas crinas. Não duvides, incréu, como disse Gonçalves Dias no poema Y-Juca-Pirama: - “Meninos, eu vi”.
Já ouvi umas conversas meio assim para nanar bovinos que alguns fazendeiros do Brasil Central tem criações de sacis, inclusive para exportação, num embate comercial com os norte americanos exportadores para nossa terra daquelas aboboras horrorosas do halloween.
O saci no entanto, pelo que dizem anda meio acabrunhado, inclusive deprimido. Viu algum filme de gosto duvidoso e chegou a uma triste conclusão:- Jamais conseguirá fazer amor de quatro.
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