Perguntaram ao vagabundo, de repente:
-Tirai as nossas dúvidas, onde é o paraíso?
E andrajoso, faminto, magérrimo e sereno
- Aqui mesmo, responde o indigente.
Inconformados os inquisidores:
- Vê lá, só há lugar pra dores neste mundo.
É fratricídio, parricídio, drogas, assassinatos,
sequestros, até infanticídio
- Ah, sim! Pondera o perguntado
Mas há pessoas lindas, florestas e cascatas,
sorrisos de criança, fases da lua, festas de sol poente
Ainda existem flores, vejam só os senhores
Mas mui contrariados, inda mais perguntantes
Quiseram confundir o Sócrates da praça:
- Se aqui é o paraíso, onde o inferno está?
- Sob nossos pés o pisamos de graça
Inda mais que ao inferno o passe é gratuito
- Mas que lorota é essa? Inferno ou Paraíso?
Indagam irritados os sábios de plantão
Sério, o vagabundo:- No que respondi erro não há
Tênue é a linha que divide os estados (inferno /paraíso)
Na verdade nem sei em qual meu pé está
É claro e muito lógico, soberba discussão
Estabeleceu-se entre concordantes ou não
O paupérrimo acalmando as almas exaltadas
Disse ainda mais:
- No mais chuvoso inverno e no pior estio
Idem a dor intensa e a grande alegria
Verão abrasador e rigoroso inverno
No jogo de antagônicos
Em verdade vos digo:
- Tendo o pé direito no chão do paraíso
Podeis ter o esquerdo fincado no inferno
- Paraíso ou inferno, de vocês, malcontentes
Quem quer deixar aqui, de forma consciente?
E mais não disse, nem perguntado foi.
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