Sobre o frio dorso de pedra,

qual da musa a pele lisa,

seu influxo quando medra

tão veloz ela desliza,

e sua lampeira queda

nas torrentes alguém frisa.

 

De colossal formosura

ela exibe a cabeleira,

um manto cuja ternura

é mágica e feiticeira!

Mais parece uma moldura

da beleza derradeira.

 

Vem de longe, mui distante

este sangue transparente,

que correndo qual infante,

rastejando qual serpente

lança o voo delirante

e despenha decadente.

 

Tem o brilho dos cristais,

o frescor das ventanias;

tem segredos imortais

que nutrem as fantasias,

e, as vozes das catedrais

exalando as calmarias!

 

A seus pés brincam as fadas,

as risonhas divindades.

Em seus pés linfas nevadas

que remoçam as idades,

nas escuras madrugadas

surgem muitas entidades.

 

O luar é derramado

em sua cortina clara.

Em seu berço perolado

agita-se a bela Iara,

que contempla com agrado

a grandeza que sonhara!

 

Perfumam suas espumas,

suas mádidas poeiras

o céu das matas em brumas,

os ramos das laranjeiras,

e escrevem quais áureas plumas

a fala das cachoeiras!

 

Quem viver não quer ao menos

dentre sua longa trança,

ouvindo os sons amenos

envolvido nessa dança,

pilhando nos desempenos

os tesoiros que ela lança?

 

Alexandre Campanhola
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