Eu não tenho tempo para chorar.
A vida me consome.
O ácido úrico que desce
garganta abaixo
diariamente,
impossibilita qualquer sopro
de melancolia.
O spray de pimenta constante
que me envolve,
queima minhas retinas.
Eu corro o tempo todo
tentando escapar.
E não tenho tempo para chorar.
Estou demasiado perto
do abismo que vem se abrindo
à minha frente.
A espada que trespassa
meu peito, cotidianamente,
reparte cada vez mais meu coração.
Este, está em pedaços e
cada vez mais longe da unidade.
Uma necessidade de aglutinação.
As feridas não aparecem.
Há cicatrizes externas,
mas internamente estas pulsam,
sangram, doem.
A pasta escura em que se transformou
meu sangue,
tinge de púrpura minha face.
Se faz urucum e se revela em
minha fronte.
Minha feição não esconde o
abismo que há em mim.
Minha vontade de pular
é crescente, mesmo
sabendo que jamais retornarei.
Mas é sedutora a dor que
esse abismo causa em mim.
Pularei. Pulo. Pulei..
Morri.
E não tenho tempo para chorar!
© Todos os direitos reservados