A Cigana Do Viaduto

Mocinha, deixa eu ler tua mão?

Narrar a fortuna que te espera,

A vida que prolonga e prospera,

Os moços que se prostrarão por seu perdão...

Venha princesa, sua mão folharei.

 

Desculpe ciganinha, mas hoje não.

Hoje minha mão é bula, contrato, bíblia...

Sei que dirás delícias a me deixarem ébria

O dia todo, delícias que mal cabem numa mão,

Mas hoje não lerás minha mão, não hesitarei.

 

Tá certo, querida, mas a mão estendi.

 

Rapaz dos meus olhos, quer ouvir sua sorte?

Contarei da moça emaranhada em tua palma,

Do dinheiro incontável a valer tua alma;

Contarei mais duma vez de como vencerá a morte.

Venha meu lindo, suas linhas decifrarei.

 

Vá com suas quiromancias para lá!

Não gozo de tempo para enganos, ladra;

Faço fortuna e vida sem sair pela culatra

E, se queres um néscio apaixonado, pegue uma pá,

Cave e acharás os restos do tolo que enterrei.

 

Oh me desculpe! Com um vivo o confundi.

 

A cigana não desanima

- ler mão não é só pão, é sina.

 

Meu jovem senhor, que tal uma consulta?

Outra minha filha!? Nesta idade abunda.

Flor de senhora, ler mão não insulta!

Vá-te reto cigana! Vá trabalhar vagabunda!

 

Sua brônzea presença a cigana mantém no viaduto,

Amaldiçoando os menores que levantam seu vestido.

 

Praciano
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