completas velas apagadas
paira um cheiro inadequado no ar
e reformam-se as cores inconscientes e plenas
como se o tom fosse inexistente
flutuando em um palco meio aplaudido
das eras sacrificadas à morte prematura...
e os palácios de fogo se incendeiam do nada!
e o fogo aviva as velas que no escuro sobreposto
revelam sombras desnudas de contornos
e impregnadas de irrealidades...
desde o desaparecido e equacionado cheiro do ar
não tão mórbido e apenas inconfundível
às questões que me resguardam outras...
somente em vão contra a gravidez do grave
mais e mais em mim...
filho inquieto do medo gerando luz
ao útero em aberturas de sexos definidos!
pai do delírio inexplorado rastreando o antigo
tanto quanto intolerável tempo a menos...
pois o fim se contorce aos lados curtos
em tentativas forçadas do quadrado perfeito
da figura carente de geometria física!
e o fim se integra e se desintegra no mais além...
e o mais além se faz raiz real elevando à quinta amplitude
o mar diferenciável das estrelas...
será que a fenda escorreu à cidade deserta?
nela as paredes se comprimem
convergindo os raios gama da destruição
aos não menos luminosos buracos negros
da guerra cósmica dos deuses bestiais...
por que o sangue inundou os orifícios já entreabertos
da carne fraca com o sal e o leite do mar?
loucura? fuga às regras? idiotas!
só o mar conta os peixes afogados...
só o sangue derrama o leite da mãe morta...
é porque o sol obstruiu e escureceu os vasos celulares
matando todo o código genético de uma geração...
e o sol também se apagou pelo frio das calotas polares
derretidas e enviadas aos vulcões...
e o que não se sabe são as atrações magnéticas
incoerentes e vagas do apertar um botão
explodindo uma bomba na selva amazônica!
e a África afundou no oceano único
e os pássaros pousaram de asas perdidas
na ilusão de um coito mal feito de uma vida
uma baleia e uma formiga talvez...
o homem no espaço assiste à cena final
e do satélite emite ondas de velocidades altas
tentando comunicação com os macacos!
e ele acorda suado da gota primeira
do pulo do rato que o gato comeu
e o cachorro latiu rachando os ossos
quebrando ao meio o pensamento canino!
a mulher e a criança:
a mulher é a rosa que desbota pétalas...
a criança é o feto do adulto que cresce...
e o homem assiste à divisão do átomo
em rotações de movimentos retilíneos
pois a aceleração é constante e a inércia aparente...
a física quântica é somada e subtraída
e Einstein descobriu o erro passado
e transcendeu da matemática à filosofia!
pois a igreja condenou a ciência à santa inquisição
mas isso é irrelevante e o tempo cura...
não sei mais de nada:
se a máquina funciona
se o computador fala
ou se a humanidade regride à idade da razão
de um coração romântico...
ou seria parnasiano? ou seria realista?
o laser abre fendas e cobre vales!
a poesia regenera e conquista a platéia
em um teatro de bonecas de pano...
um grupo em um show moderno
revista e revisa a palavra dada...
o carro elétrico estancou e a gasolina evaporou
não! foi o petróleo do governo
numa política absurda
de eleições e sistemas velhos...
e o alimento? quem morrerá de fome?
os estudantes pedem sua vez!
os estudantes perdem sua voz!
o livro diz que a pedra é um cristal...
e a música profana há séculos a caminhada
o jazz, o rock, o samba
toda uma discoteca vencida...
e o leão? o imposto imposto não foi pago...
foram os insetos em seus calvários!
e a ordem dos fatores alterou o produto bruto
e a nação faliu...
e o mundo sucumbiu à missão de um profeta
na volta dos magos musicais com seus instrumentos
mágicos, estonteantes, irreais...
nós venceremos?
temo pelos meus filhos que pagarão as dívidas
externas ou internas? tanto faz!
e eles inocentes e coitados e criminosos
e têm que esperar pela chuva na seca de chuva
pois só assim a fome acaba e vem um novo presidente!
a luz se acendeu, a cortina se abriu e uma flor também...
no palco a relação sexual de um olhar cego!
o cálculo da temperatura na boca gelada
e sonego a mim mesmo esta poesia
indefinida pela antimatéria isolada
e chega então o fim
que na derivada de si mesmo
se faz real e consciente
para a minha poesia que termina
na minha poesia que começa
Poesia incluída no livro Ceia Literária 5 – O Lago Das Vozes – 1998.Fortaleza, Ceará
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