A Adriano Fernandes da Silva
I
Estou às cegas após ter visto o brilho mais intenso e celestial.
Quando vi e toquei aquele belo rosto, senti a suavidade de seu arranjo,
Imediatamente me perdi e eis que iniciei minha valsa final
Esquecendo-me, todavia, que Satã também foi um anjo...
Segurem-na! Pois sinto que minh'alma inerme se desprende!
Fiquei indefeso diante de tanto encanto feminino!
Como um completo imbecil o qual o amor nunca aprende
E acaba por sentí-lo sempre mais forte, sempre mais divino!
Mas por sentí-lo tão poderoso, conheci uma profunda escuridão.
Titeriteira de mim, tuas mãos fizeram de mim uma marionete.
E fiquei solitário em meio à infinita eternidade, terrível desolação
Onde através da angústia a matemática do fim sempre repete os sete vezes sete.
Estive surdo para qualquer voz que não fosse a tua.
Carências de um'alma pecadora, e, Dama Negra, deste-me o beijo
Que m'enlevou a um universo novo, o qual me permitiu tocar a face da lua
E a lua em verdade, não passava de um sujo e roído queijo...
Tudo envolto em sombras agora! Caminho "pleno", mas em andrajos.
Sou um mero cordeiro fraco diante de esfaimados lobos
Os quais me despem, deixam meu corpo e alma sem quaisquer trajos,
À mercê dos risos do mundo, bobo, mesmo entre os mais bobos.
As trevas se calam, tudo quieto, tudo frio no mais supremo silêncio.
E sinto que muito durará esta colossal pungência.
Um cuspe ao invés de um beijo, sentimento neutro de tua parte... E quem vence-o?
Não sou eu. Quem será? Quem me empurrará à demência?
II
Lembro-me de Dante: "Perdei, vós que entrais, toda a esperança!"
Exato. Estou tremendamente só. É isto a sensação de inferno.
De tua boca agora sai uma fumaça negra e me convidas à última dança:
Com passos esquizofrênicos, psicodélicos, um algo de confuso eterno...
Por que me deste o Éden se no fim das contas querias tirá-lo?
Esta existência a qual a dor tiraniza não é mais a minha!
É decerto um castigo para alguém que ao escuro, sempre compôs versos a exaltá-lo!
Em qual ermo minha vida ignóbil agora caminha?
Há em mim uma sensação tão profunda de aniquilamento, tão forte...
Estou bêbado em mim mesmo, perdido entre o que eu era e o que me tornei.
Tudo o que faço não tem graça, é só tédio, mas nem de longe me ronda a morte.
E não quero ainda morrer... Quero experimentar mais dor do que já experimentei...
Sinto culpa. E por isso estes fantasmas me assombram, me devoram...
Tuas palavras finais afundaram um espírito celeste aos confins subterrâneos
Onde é tudo tão sombrio e sem vida, onde só te vejo em lapsos que apavoram,
Porque são rápidos, impalpáveis, etéreos, momentâneos...
Come minha essência como o mais feral animal selvagem.
Estou envolto por uma ausência de vida e sentimentos, sinistra, macabra...
O banquete que devoro aqui, tem sabor da pior lavagem
E a cada corredor que passo, não há sequer uma porta que abra...
Quando vi a luz pela última vez contigo, lembro-me que pousou em meu ombro um corvo...
Pareceu-me que sussurrara algo... Desde então, tu não mais me elevas...
Estou amaldiçoado... Que amor será tão grande a ponto de me livrar deste estorvo?
Que alma iluminada (se é que ela existe) há de salvar-me das trevas?
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