O QUE VOCÊ FAZ?

Estive na festa de aniversário de um colega onde a maioria dos convidados são estudantes de medicina, como o próprio anfitrião. Lá conheci algumas pessoas interessantes e "proseadas", e entre elas uma garota que a princípio me pareceu bem simpática. Conversamos dentro de um grupo no canto da festa sobre diversos assuntos, rimos, enfim, até que a tal menina, não contendo sua curiosidade, quebrou seu silêncio me fazendo uma pergunta: - O que você faz? Respondi que sou estudante e trabalho, traduzindo: não sou estudante de medicina como você.

Minha resposta lhe serviu como balde de água fria na cabeça, pois no mesmo instante ela se desconsertou, e pouco depois se retirou do grupo onde eu estava. Quando ela o fez, brinquei com seus colegas dizendo: - Deveria ter dito ser outra coisa, para que sua amiga não tivesse se sentido tão confusa em conversar com pessoas com outros interesses na vida. Meu humor fez com que aquela cena constrangedora fosse quebrada, e continuamos a nos divertir na festa. Porém, após aquele dia, não pude deixar de perceber como hoje as pessoas abordam as outras quando se conhecem.

A pressão em ter que fazer a própria imagem é tão grande, que passamos parte do tempo falando para desconhecidos o quem somos de importante, e o que fazemos de interessante, como se não houvesse muito mais coisa gostosa neste mundo para se conversar. Depois de perceber isto, se tornou uma tortura ter que ser entrevistado toda vez em que conheço alguém, para que assim a pessoa possa analisar se deve ou não se envolver comigo dependendo de minha ficha profissional.

Não conversamos mais sobre gostos e prazeres, e não falamos mais de manias engraçadas que todos nós temos em comum. É preciso saber antes se vale a pena ou não relacionar-se com alguém que ofereça ou não um status como amizade, ou que pertença ou não, ao mesmo grupo de bolha. Amizade e descontração perderam o sentido de antes.

Sem falar como é difícil ter sucesso em conhecer e paquerar alguma garota em festas se você não for um sarado e tiver um carrão, mesmo se você diz um monte de asneira. A menina de hoje não se interessa pelos extrovertidos e conquistadores, elas querem sentir segurança financeira. Elas não perceberam que já ganharam o mercado e que não precisam mais depender destes detalhes para se sentirem estáveis.

Hoje todas as mulheres podem dar a si o luxo de se envolverem com alguém que as faça sentirem-se mulheres de verdade, ao invés de um símbolo de conquista ou objeto de desejo. Estou até para dizer que os homens também estão partindo para os relacionamentos lotéricos ou “HOLLYWOODIANOS”, no caso do Brasil “PANCADEIROS”, se é que me entendem.

Depois de conseguir enxergar tudo isto decidi não mais dar importância a minha imagem pessoal, pois a popularidade depende de um esforço vão e contínuo de forjar aparências infelizes. Quando alguém me perguntar o que faço, responderei que faço um monte de coisa legal, e se esta tiver realmente interesse em saber terá que ter paciência para poder ver uma por uma com o passar do tempo. Pois não dá para mostrar quem você é com algumas palavras friamente calculadas ou apresentações de negócios. Uma hora a casa cai!

Rafael Delogo
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