Quero ser o que não posso ser.
Sede insaciável de mim.
Procurando no escuro meu ser.
Quero ser e crescer enfim.
Tombando nos próprios pés
me cansando de nada e por nada.
Sempre recorrendo ao invés.
Querer subir sem existir escada.
Abasteço-me de imaginárias forças
e quem guia é o estinto,
mas não há muitas escolhas
quando está num labirinto.
Já não há lógica nem emoção
nesta perda de mim mesma.
Se calou meu coração
não há sentido que prevaleça.
Ser sem poder ser...
existir no inexistente
do iníquo universo
onde nada é coerente.
Uma insídia foi me dada
no dia do nascimento
subitamente iludida
pela existência em momentos.
E agora, o que é existência?
A ciência de anatomia nada explica.
Se soubesse de minha decorrência...
O coração bater nada significa.
Se minha origem desconhecer
do quê vale a frequência cardíaca?
Vivemos num quarto escuro de questões
e muitos morrem sem as responder.
Questões estas impossíveis...
será o sentido da existência morrer?
Será que nas terras que cobrem as frias carnes
há mais do que o pranto dos amantes?
Será que estas terras transformam
um miserável em ser constante?
Será que um instante do infinito
pode caber em minha mala?
Será eu só um faminto
por essa viagem em escala?
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