como não me entregar a este amor?

como acreditar de novo?

se faz me entregar ao ópio

de tanta sombra sobrou dor

às vezes ressoa mil estampidos

e quando amanhece está escuro

anoitece multicolorido

depois amanhece sem sabor

tento escutar você não fala

mas quando me sussurra estala um grito

porquê se te escrevo é como uma bala,

matando um inocente inaudito?

só quando estamos à beira do abismo

percebemo-nos os dois estarmos vivos

é quando um século não demora

os minutos voam sem nenhum atrito

nas mãos um livro aberto sem ter página

de cada frase feita sem ter lido

nenhum abcedário poliglota

tampouco um analfatebo emudecido

em cada dor eu sinto ter uma alma

mas quase-morta por não ter te vivido

beijando sua boca sem piedade

amassando com meu silêncio o teu grito

escondendo na mão essa verdade

em cada murmúrio lamentando esse fim

como se o mundo se acabasse depois

sem conseguir persisitir mais por nós dois

e sem saber como apagar o amor em mim


 

 

 

 

 

André Ferreira
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