Cantava a cigarra, alegremente,
(Em dó, ré, mí e sustenidos)
Quando ouviu o arfante gemido,
De uma formiga, a trabalhar:
_Eu, aqui, cansada, lavrando a terra
E você, pretensiosa, megera,
Fica aí, solerte, a cantar?
Será que não vê, cigarra imbecil,
Que o inverno não faz tardanças?
E que você, nesta sua lambança,
Nada faz... pra se prevenir?
Será, sua cigarra irracional
Que não notas o tremendo mal
Que fazes... ao não te munir?
Não obtendo, todavia, respostas,
(Pois a cigarra seguia cantando)
A formiga foi se enervando,
Até chegar à imprecação...
Quanto mais, porém, se irritava,
Mais a cigarra cantarolava,
Aumentando-lhe a indignação!
Não mais suportanto o "acinte",
A formiga se desconjuntou
E, esbravejadamente, continuou
Até que, enfim, foi ouvida...
A primeira, coisa, todavia
Que da cigarra, ela ouvia,
É que cuidasse da própria vida!
E continuou, esnobando as palavras,
(Diferenciando da fábula anterior)
Que cada um tem o seu valor
E que ela, sim, é que vivia...
Que o salário, anual, da formiga,
Ela, sem cansaço e nem fadigas,
Ganhava num único dia!
E ratificando as próprias falas,
Foi conclusiva e mal educada;
(Dizendo não estar preocupada,
Com toda aquela "arengação")...
E terminou, fazendo ameaças,
Deixando a formiga sem graça,
Sem o menor poder de reação!
_Tenho meu emprego em Brasília,
(Faço parte de um Ministério);
E não vejo, nisso, mistérios
Pois adoro uma mordomia...
Não ligo para papos furados,
Tenho meu emprego assegurado
E posso cantar todos os dias!
Escute, porém, formiga otária:
Pare com as suas choradeiras;
Pare de me falar besteiras,
E continue lavrando seu chão...
Intinou-a, por fim, a se calar
E continuou a cantarolar,
Dedilhando o seu violão!!!
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