Ouvindo a mesma música todos os dias
À espera do refrão, em busca do perdão
O tempo parece criança a chupar o pirulito da razão
E o vazio que advém, depois de alguns minutos
É o momento em que a canção finda-se em inerte tristeza
Tamanha incompreensão das notas de um piano
Num solo que destroça até o coração de um tolo
Que horror onírico, que delicadeza estranha
O autor disso certamente não faz idéia do belo monstro que fez
Capaz de variar a alegria à dor em dois tons
E essa voz que arregaça o peito e pede passagem
Parece que esconde umas verdades acobertadas no meu peito
Que entrando pelos meus ouvidos explodem em devassa
E as palavras ditas com teor e entoado cuidado
Silenciam o contrário, pressuposto do amargo estrago
Que essa poesia faz em mim toda vez que ouço
A minha esperança é lançada no refrão
Que nunca chega e quando vem logo se vai
É ele o momento da redenção, o silêncio da confirmação
Afinal, a única parte com a letra decorada
A minha voz sobrepõe-se à canção, eu posso ser perdoado
Nos segundos da perfeição intacta e correlata à vida em sonho
Palavras que se sucedem em tom de conformação
Sonora certeza de que o meu perdão se abre no timbre de violinos
E se encerra quando nossa viagem termina com a estrada esburacada do estribilho
Para mim, este foi o fim, mas a música não pára por aí
Mas a vida não pára por aí...
E o desejo de ser perdoado se renova mais uma vez...
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