Agulha de palavras - Prosa

A bala que está na agulha
nem sempre atinge o alvo,
pode acertar um coração desatento,
mas nunca deixará de pingar
seu sangue pelo chão.
Antes se esconderá atrás
de uma cortina de fumaça,
açoitando as letras escritas
em tecido de ferro.
Deixando um sentimento
abstrato sorvido e degustado
em copos de cristais
que se quebram se esfacelam
apenas com um toque
de dedos inertes.
Estes poderiam ser de plásticos,
que o valor e o resultado
teriam o mesmo significado.
O sentimento camuflado
ao lado do peito do sábio,
não se deixa sentir a fobia da bala
que ainda continua na agulha,
discriminando o valor das palavras
descritas na recente parede
pintada por garras afiadas,
mas pelo sábio sendo desmascaradas.
Tal qual a pimenta que se mistura
ao mel, ele só sentirá o gosto
que melhor lhe convêm
e que nessa utopia não há diferença
entre a bala que ainda está na agulha
e as palavras que se perdem ao vento.
Então...
O ouvido do sábio rejeita a palavra composta,
o discurso de pluralidade, para ter apenas
a discreta natureza de amar no singular.

Lucélia Lima
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