É navalha na carne de um povo sofrido
E o sol quente na face de um povo perdido
Entre trilhas sem vida de um Nordeste esculpido
Entra cáctos e misérias pela morte invadido
É sofrer sem saber, sem motivo aparente
É destino ou castigo do Grande Onipotente?
É o sofrer de um povo cuja fé é premente
E recebe dos céus uma vida indecente
Entre a cruz e a espada escolha não existe
É um pedir para os céus e a miséria persiste
E a morte ceifando, poucas almas resistem
E abutres festejan num cenário tão triste
É um querer ser feliz mas a sorte rejeita
Feito a mãe infeliz ao filho nega a teta
E se morre aos poucos e o corpo aceita
Sobre a cova a cruz a paisagem enfeita
Sonhos se evaporam sob o sol que castiga
E a vida se torna tão cruel inimiga
Cada dia é uma luta, vidas secas que brigam
Mas a sorte ordena que a miséria prossiga
Essa vida mesquinha é coisa de segunda
E a morte é o brinquedo que a todos deslumbra
Ela é a semente que a terra fecunda
Quando brota é promessa de enfim paz profunda
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