Assim como o fogo me parece vital,
eu tenho a escolha do bem ou do mal.

Se construo docemente a mais perfeita donzela,
posso protegê-la como um sentinela.

A vigio por noites incansáveis de buscas incessantes,
posso fazer nela morada de meu coração amante.

Ou se canso de esperar, posso deixar de amar,
posso me desesperar, chorar, me maltratar.

Posso arrancar de minha caneta toda a tinta
e assim matar esta donzela, que ficará para sempre
perdida, arrependida e esquecida.

Desfaço o aço, como construo o fogo,
arranco o laço sem embarasso,
escrevo esse embasso, sem sono ou cansaço.

Madrugada morta de profundo vazio,
ainda brilha no fogo um profundo sombrio.

E neste fundo imundo termino esse verso profundo.
(Pedro Lage)

Pedro Lage
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