Repartir de Ilusões

Nossos braços só alcançam até onde vai o nosso querer. Nunca além.
E se ao voltarem, chegam carregados de ilusões,
estas foram construídas por nós e não doadas por alguém.
Ninguém consegue repartir ilusões próprias de si, com outrem.
Seríamos inocentes demais ao acreditarmos nisso.
Só procuramos por aquilo que ainda não nos pertence ou,
se já nos pertence, ainda não temos consciência disso.

Viro as páginas de um livro sem ter medo de
encontrar uma página em branco,
porque durante muito tempo mantive o livro fechado
ou fiquei lendo e relendo apenas as primeiras páginas.
Se encontrar uma página em branco, eu mesma ousarei escrevê-la,
mesmo que escreva nelas apenas meus delírios
e as ilusões que ainda tenho o prazer de sonhar.

Por isso, não permitirei que meus braços
deixem de buscar o infinito
que me traz a felicidade
e o prazer de viver os meus sonhos.
Porque se a felicidade é do tamanho de um sonho,
quero sempre continuar sonhando.

Pois eu sei que o sol se vai quando a noite chega,
mas também descobri que ele nunca deixa de brilhar.
Apenas brilha em outro lugar.
E mesmo que a noite venha,
após ela, um novo dia vai chegar.
E o sol voltará a estar lá,
mesmo que brilhe escondido
por entre as nuvens e as lágrimas do céu.

Não sei se acredito que todo o princípio tem fim,
mas que tudo tem continuidade... depois do findar.
Até os sonhos que abandonei ao longo do caminho.
No dia que virá, sou eu que posso não estar aqui,
pois a finitude da vida está em mim e não na vida,
nem nos sonhos, que ainda posso e ouso sonhar.

Maria
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