Véu d'agua,
atravesso-te na certeza
de meus propósitos.
No tom vaporoso que conferes à cidade
de maldade e cegueira dos olhos.
Não nego se algum dia esbravejei,
se algum dia não quis que tuas gotas
se misturassem ao meu suor,
nem que minhas lágrimas vertessem,
encachoeirando-se, ganhando forças
junto ao teu nobre e úmido exército.
Na tua presença iluminada,
caminho entre vielas, ruas e alamedas.
Viajo por estradas infinitas
com os pés por entre as poças,
vejo o sorriso das roças,
da gente agreste de fé.
Tú que surges das promessas,
que vem como milagre,
transformando o vinagre
em dádiva insípida.
Ajudai o pasto de gramíneas
a erguer-se em soberba floresta,
recuperando a paisagem funesta
de puro despeito dos homens.
Dama dos nevoeiros,
manifesta o teu poder
no constante dançar das nuvens,
na rouca voz do trovão.
Deixa recair sobre nós a cortina
cuidadosamente pontilhada.
Liberta a consciência seca.
Ri do tolo impermeável.
Livra do calvário o sedento
e flutua sua graça sobre o firmamento.
Mistura-te à terra, para ser apenas lama
que se derrubará toda na pálida roupa dos doutores
ou em qualquer formalidade vil.
Cavalga o teto dos carros
embaralhando a visão dos motoristas.
Obriga-os a acelerar a atenção
diminuindo a velocidade.
Rega nossas veias fluviais
e borra essa poesia de rimas incidentais.
Estou sem mais...
Estou sem mais agora para dizer-te.
Peço apenas que aceite este abraço
de gratidão e palavras.
É preciso deixar-se molhar para amar-te.
É o que sei somente.

Homenagem à minha querida terra. São Paulo da garoa, São Paulo de terra boa.

São Paulo