RAFAELA
 
 
   
 
       Não sei, nem lembro mais quando as raias da paixão invadiram o meu ser, ou quando a ventania dos mares açoitos de desencontros enviou sobre nos  o ciclone que transforma a poeira do tempo em pétalas de rosas perfumadas com o aroma do amor...
Eu  que já me despedia desse corpo cansado  e me elevava a uma situação de imortalidade onde se me espreitasse o perigo, eu, que já nada mais tinha a realizar e que dormitava nas alegorias de meus elogiadores ao mesmo tempo que perdoava aos invejosos  eis que se me encontrei caminhando pelas ruas do passado perguntando por amigos que já haviam partido e fotografando com a minha mente o casario da Rua do Giz, contigo ao meu lado, você, bela e irretocável como um abstrato de Piace, o mesmo sorriso de 200 anos atrás, a mesma voz e os mesmos sonhos de quando idealizamos uma vida nova nas Ilhas Canárias... Querida, um corpo envelhece uma alma não e apesar de não me sentires e nem te embriagares com o perfume que já não o sentes, mais eu sou ainda o mesmo cigano que abandonastes à beira do riacho dos arvoredos  em Marselha na noite de meu aniversário.
        Tivemos outras e infrutíferas vidas em busca constante e até nos vimos em um carnaval parisiense  mais logo o éter nos envolveu e só nos restou a paixão, os sonhos e a grande emoção ...
          Mais agora tenho um corpo cansado  que abriga  uma alma sedenta de teus beijos, de sorver teu amor e de deitar ao teu lado na noite quando te acordas coçando a minha cabeça e dizendo: eu te amo... Eu temo por ti, por você, por nós e o que seria de uma vida assim? Teríamos de enfrentar pessoas rudes, preconceitos e o que mais? Seria um premio ns encontrar nessa etapa derradeira de vida quando floresces e desabrocha repleta de energias ou um castigo pelas insatisfações do passado que nos tornaram reféns do amanhã?
             Amada, o que fizemos um ao outro e porque nos é ora ofertado a oportunidade única de resgatar, de viver, amar e ser  apenas um em dois e sei lá mais, eu que não aprendi a cantar mais escrevo musicas e poemas e as vezes até arrisco poesia só para dizer que eu te amo. Isso seria muito pouco para 300 anos que você não suporte mais eu digo e escrevo nas nuvens, aquelas que só você pode ver nessa linda manhã de julho de 2010 ou: sempre eu te amarei

AIRTON GONDIM FEITOSA
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