A Velha e sua Cadeira

 
Permaneço acordada para ver
As estrelas essa noite
E não perdê-las de vista
Até amanhecer
Essa pode ser a minha última noite.
 
A mariposa se jogando na lâmpada da sala
Me distraiu, mas não me atrapalhou
Essa pode ser a ultima mariposa que verei.
As vezes senti aquele perfume no ar
E me perguntei se seria você passando
E me dizendo que está na hora de ir embora
Com a brisa que entra pela janela aberta.
 
O banho desta vez foi mais longo
Passei imaginando quantas gotas de água caíram
E quantas mais ainda teria
E se ainda teria mais alguma.
Fingi comer alguma coisa,
Mas no fim não estava com fome.
São as últimas horas da minha vida
E com elas a ilusão do tempo passando.
 
Quem me dera não conhecer o tempo
E não saber que minha hora está chegando
Quem me dera esquecer os anos
Que desperdicei falando e falando
Da minha época, das minhas dores
E das cores do sofá
Que insistiam em não combinar
Com as flores da janela.
 
A cadeira, sempre a mesma;
Melancólica companhia.
Que acompanha as batidas
Do meu coração em frangalhos
Balança-me dia e noite,
Balança-me noite e dia.
 
Aguarda comigo o momento de parar.

Bianca Goulart
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