Eu sou um vago momento que não existe

Eu sou um vago momento que não existe
Sinto uma larga sensação de recordação alguma
Um pesar, um vazio.
Eu perdi alguns sorrisos teus por Egoísmo ou Respeito?
Aqueles teus risos são tão existentes agora quanto eu,
A diferença é que eles existiram
Mas e eu, existo?
Vivo? Sinto?
Morro sem saber que existo
Sangro sem saber se há vida em mim
Loucos vêem se loucos?
Loucos sentem se loucos?
Loucos dizem se loucos?
Os artistas têm verdades,
Nos trazem verdades que conosco convivem,
Que não dizemos
Que não percebemos plenamente
Mas que existem
Que nos martelam
Não vou querer lembrar de mim um dia
Não terei nada a recordar de minha vida
Pobre vida
Vida de fantasias
Vida de quereres infinitos
Vida de desejos inalcançáveis
Construímos nosso futuro
Vivendo e percebendo esses presentes
Que suponho não sabê-los.
E pra quem não se compreende?
E pra quem talvez não exista?
Eu não terei lembranças
Não vivi presente
Não construí futuro
Hoje eu acordei e realmente achei
Que guardava ainda teus risos
Ao menos um ou dois?
Ao menos pensei que houvesse risos teus
Mas era naqueles segundos
De sono concentrado ou sonho?
Existe um fio em meio a tudo
Um fio que me liga a mim
Talvez eu possa desfazer essa barreira
Que me afasta de mim
Penso que poderia levar qualquer
Uma daquelas vidas medíocres
Daquelas pessoas que vivem
Que existem
Tem lares
Vivem seus presentes
Fazem seus futuros
Penso que talvez eu também possa
Talvez seja melhor do que viver nesse nada
Viver vida alguma
Como serão aqueles que não questionam?
Queria saber quantos são aqueles que existem
Eu sou uma caverna
Talvez haja luz ao meu redor
Embora eu não tenha a certeza
Embora eu não deva acreditar em mim.
Certa vez
Um Pássaro se aproximou de mim
Nele havia toda a delicadeza que eu desconhecia
Todo o gracejo duma viva maravilhosamente encantada
Todo o esplendor de uma valorosa existência
Estou certa que foi nessa época que eu
Sugestivamente de algo
De algum profundo que possa haver em mim
Que eu vim a crer numa possibilidade
Uma possível e pouco errante possibilidade
De um ser á pouco inexistente
Sempre ter tido vida.
Aproximou-se tanto que
Seu canto foi capaz de me entorpecer
Desmoronar
Ouço-o ainda
E jurei que por toda a minha vida eu havia
De recordar ao menos dele
Daquele doce canto
Daquele majestoso momento que foi
Ter estado ao lado dele.
Não houve jura alguma
Mas eu sempre senti que a jura sempre esteve comigo
E seus pousos sobre mim duraram instantes
E por alguns instantes
Meus olhos e meu peito cessaram com as dúvidas
Para que eu pudesse sentir
Somente sentir.
É provável que minha insanidade não seja tão duvidosa
E se eles me levarem?
Poderei perder a chance que tenho de livre construir o meu futuro
Mas não há liberdade
Mas e se eu não existir
Não será melhor ir
E descansar de uma vez por todas?
Aquele Pássaro foi momento querido
Aquele Pássaro é lembrança que não se perde
Que não se apaga
Que só quem pulsa é capaz de tornar
Inesquecível o doce canto do Pássaro
Que aconteceu pra me enviar a luz
A luz que desperta pra mim
E me faz duvidosamente existir.

18/01/05