De que vale a poesia? – pergunto-me, em hora tão imprópria!
Ora, de que me valeria, a própria vida se, acaso, não tivesse, eu, surgido
Em meio a essas rimas que me sustentam,
Em meio a esses voos de palavras que são como pássaros,
Em meio a tudo isso com que me fantasio?!
Fantasiado de ser vivo – pensante, sentindo,
Em meio a este palco, neste circo,
Eu, gaiola ainda,
Representando papéis que os rabisco, com as mesmas penas com que,
De pássaro, me visto!
Mas, de que vale a poesia?
De que me vale a prisão em que me mantenho?
Seria pela fuga que pretendo, que consigo,
Colocando-me alheio a uma realidade toda prosa de si mesma?!
De que vale a poesia?
Seria, ela, apenas uma pura fantasia,
Seria apenas os sentimentos em catarse de si mesmos,
Alçando voos e subindo aos sétimos céus que imagino?!
Ah! Como eu sinto tanto por tudo isso!
Mas, de que valeria,
A pena com que me firo,
Com que me cuido,
Com que me salvo,
De mim mesmo, em meio a essa tão sentida vida?!
Seria, ela, poesia, apenas um projeto da alma artista,
Apenas uma fantasia da própria e infinita e incontida vida?!
Oh! Mas, enfim – a poesia, o que seria?!

 

MARCELO GOMES JORGE FERES
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