As mensagens da propaganda

As mensagens da propaganda
como elas,
as mensagens são excitantes
sábias e belas!
As imagens da propaganda,
quão enlevantes!

Umas vangloriam a TV por assinatura,
seus consumidores: famílias indissolúveis
de pessoas encantadoras e inteligíveis.

Especialmente as moças da propaganda
têm na face um singular júbilo,
o corpo altivo e escultural,
o tom da voz quase angelical
e os seios, em conchas, lânguidos.

A propaganda objetiva
e torna o público embevecido.

Como se no Brasil antigo e novo
de fato, fosse o povo,
sequer, comprazido com ínfima seriedade.
Neste país onde se impera a iniqüidade
enquanto milhões de gentios mendigam seu óbolo.

Mensagens outras são uma maravilha
e mostram, de manhã, a abastada família
reunida, à mesa, para o café.

Entretida com diálogos em meio a tanta fartura
que não se vê nem no cinema,
exceto às recepções palacianas

dos intimoratos homens e heróicos
servidos por vossos obnóxios
com inigualáveis jugo e candura.

Por conseguinte, as cotidianas cenas
de 90% de brasileiríssimos lares
a propaganda desconversa e censura.

Também estas pessoas desnudas
de soberba dignidade
entrementes nas cidades
absorvendo o ar de dióxido.

É raro algo de sólido e lógico
e abrangente e real
nas mensagens da propaganda.
Portanto, nunca te iludas.

Há aquelas em duas épocas
num só tempo na fotografia,
veiculada em horário nobre.

As do governo atual,
expressas de escárnio e burla
à época e gestão remotas;
porém a de agora evidencia
transformação, progresso e cultura.

Frívolas são as que mostram o carnaval,
tomadas de congestionadas praias e avenidas,
com desmedida alegria suspensa
nas máscaras das aparências.

Longe dali, dos holofotes incandescentes,
no ululante desenrolar das horas
a fome afugenta tanta gente
e silenciosa mata.

A morte chega paulatina;
à elite, os sobreviventes causam ojeriza,
esses alijados que sequer têm o brilho da purpurina
das quartas-feiras de cinzas.

Entretanto, um grupo seleto
retorna a seus aposentos
em condomínios à guisa vaticana.

E dissolve-se nas cenas subseqüentes
entre ensaios e repousos
à realidade das grandes massas, ocluso.

Paralelas à publicidade do terceiro milênio
aguçantes já até de nosso íntimo
as mensagens da propaganda
em cenários que enfocam um mundo lindo

fazem apregoações da Era de Aquário
de uma vida bela
que eles exibem na tela
da tv de sua sala
de sua casa ainda na hipoteca.

As mensagens da propaganda
assim tão singelas,
sei não, meu caro, minha cara,
mas, por tabela,
chamam a todos de otários.

A vida subestimada
aquém do mundo ultramoderno
na passagem de um moço com sua namorada
solicitando a carne nobre,
o iogurte ligth, o vinho, a pizza
e a futura filha
por encomenda expressa
via solilóquio digital.

Elas invadem tua privacidade
elas, as mensagens da propaganda,
e te bombardeiam de veleidades,
elas, as moças de curvas lânguidas.

E tu povo, poeta, operário
não vês que na tua boca
avoluma uma lúbrica baba
amarga, aziaga de modo involuntário?

E tu espezinhas à exasperada cata
de tal país humanissimamente fraterno,
não localizado na tua coleção de mapas,
nem na vacuidade que há entre o céu e o inferno.

Contudo, somente se encontra
este mundo, no circo veleidoso da publicidade
por efeito abstrato das mensagens da propaganda.

As mensagens da propaganda
como são textuais e bonitas
e contundentes!
As que vendem seguros de vida,
especialmente.

São panos de fundo os jardins empavesados,
quase sempre,
com as figuras cordiais do principado
que até nem parecem ser gente.

Todos em close nas mensagens da propaganda
da bebida alcoólica
da margarina diet
da tecnologia hith-tech
abocanhando o bolo nesse lado hespério.

Do batom na boca
da aspirina
do creme dental biológico
da diversificação de presentes no Natal
da extra, Br, azul, ultra
e mesmíssima gasolina.

Do homem já objeto
agora neste início de século
do ano novo
do banco do povo
e com sensação meio diferente
do banco da vida da gente
com os mesmíssimos seguros de vida.

Só que da vida
a seguridade mais propriamente
vital e profícua
bem antes até
do seguro em moeda corrente
da segurança pública, privada, armada
carecemos todos da gratuita e graciosa fé
sincronizada com o espírito onipresente
que nos guiará na viagem inesperada
à vida na eternidade.

Este seguro a todos os demais, primeiro
imprescinde do diálogo diário com Deus,
na íntegra, colóquio espontâneo
como o de um pai com o filho seu.

Antecedente e bíblico
à necessidade da água e do pão
que alimentam o corpo lascivo
a quém do plasma e do raciocínio
que o distinguem dos demais seres vivos
os homens essenciam trasladar ao cotidiano,
sem jactância, emergir dos poros
da retina dos olhos

o seguro especioso e ascendente
às alturas do coração
e da alma e dos céus
que nenhuma seguradora
em mensagens de propaganda
jamais mercanciará na suas apólices
pois que emana de Deus,

aos homens, vossos filhos e semelhantes:
o amor divino, plural e equânime.

Curitiba