Moço, quero antes de ir,
antes de me abraçar com a morte,
preciso amar e ser domado;

só assim farei fagueiro o traslado.
Careço ser dono desta mulher e, com sorte,
de tantas outras que nunca vi.

Não posso morrer agora,
pois meu testamento está em branco,
minha conta negativa no banco
sem lastro, da praça.

Nem bem permaneci e já vou-em'bora?
meu nome na lista vexatória do seproc,
meu coração em estado de choque,
no rosto, um riso sem graça.

Careço de que me naufraguem em límpidas águas,
meu indesejável passado queimar em brasas
e ensaiar um grito de vitória.

Moço, faz com que eu não morra tão já,
está um inverno molhado e a geada grassa;
quantos rios transbordam nas estradas!
Os poetas e os pássaros, hoje, não vão me cortejar.

Moço, não deixa que minh’alma
fique aprisionada e meu espírito fuja
de mim, com estas mãos sujas,
e com meu semblante aziago, sem calma.

Minhas veias, moço, obstruídas pelo pecado.
Portanto, não me autoriza morrer
sem que antes eu sorva todo o vinho

que me é servido, em vida, neste mundinho
de relevância absoluta ao ter
de deferência estúpida ao ser humanizado.

Agora está um inverno pálido,
o convívio social quase sem diálogo;
faze com que eu morra sob um sol cálido
e que me guardem os beneplácitos!