CANTIGA DE UM MARCENEIRO

CANTIGA DE UM MARCENEIRO

Talhei uma mesa, nela coloquei alimentos saciei a fome, coloquei flores
Com graminhos talhei uma casa, abriguei sonhos,
dormi no chão, vi estrelas pelas frestas.
Uma janela também talhei, e o céu de azul pintava a vidraça,
e a brisa fresca secava meu suor.
Dessa janela, via caminhos, via o outono,
a primavera e outras estações.
Se fazia frio, sabia que era inverno,
 talhei cadeira de balanço para esperar o verão
Pisei no solo talhado por mim, ali ouvia meus passos,
e quando não, ouvia minha voz e as vezes meu choro,
 mas fui eu que talhei
E voltava quando queria, quando podia, agora nem sei.
Talhei colheres, pratos e bandejas,
 levei alimento ao meu corpo, também dividi com outros,
 lavei o prato (não cuspi no prato que comi)
ofereci na bandeja as mais deliciosas frutas,
 e guardei o olhar de agradecimento.
Dos ingratos, joguei no lixo os restos para não lembrar.
Dos gratos, escrevi que foram mais nobres do que o amor
Talhei a cama que deitei, e no silencio da noite,
 refleti, chorei e pensei.
E quando amanhecia, do caminho que via,
tinha volta, mesmo capenga, mas inteira
Talhei degraus , e quando tropeço e muito mais que  sorrisos,
sinto mãos estendidas.
Talhei portas, maçanetas também,
mas de tanto vai e vem, nem sei se vou e como sair
E se for voltarei também?
Talhei nas lembranças amizades que nunca se findarão.
Porque na eternidade talhei nomes que nunca apagarão.
Talhei ainda que viva, muito tenho que talhar ainda.
Lira Vargas.
22/11/2007

Lira Vargas.

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