São sete horas da manhã,
o sol ainda nem flameja;
Anteriores ao dia, pousaram nas ruas
um grande número de crianças nuas
revestidas de obsessiva peleja.

Venceram a temível noite pretérita;
quantas mais vencerão?
Pecado meu, culpa tua,
ou corriqueira acomodação?

Eu, debruçado na minha janela
vejo tanta gente na estação,
na lida por uma féria de fome.

Arrebenta, à luz da realidade,
a corrente dos sonhos:
dos meninos abandonados,
dos homens da construção,
das mulheres da educação.
...E os navios de esperanças, naufragados.

O trem não pára na estação
de desembarque, de partida,
pois não há vagas na condução
que leva a vida
ao adequado patamar da isonomia.

As pessoas perdem a condução.
O trem quando passa,
passa apressado.

Os olhares do povo, nesta repetição, alienados,
o futuro subjugado na face
e a vida virou base
de garantia dos negócios arriscados.

Mas nunca descarrila
a máquina da fantasia.
São sete horas da noite,
agora esta gente aparenta agonia.

Porém, há exíguo espaço na estação,
pois alguns viventes não venceram ao dia.
Uns barcos obliterados no turbulento mar,

força inútil para se libertar
da corrente marítima
que é o amor,
outra embarcação de ilusão e dor.

Mas o trem não pára na estação.
O desencanto dos tempos desliza
nos soturnos trilhos da vida.
...E a vida não vai além da ilusão.

Curitiba, 22/05/1988

Curitiba