E eu que sempre me achava o máximo,
Um tanto politicamente correto;
Farto, agora, viro o prato
Em que me foi servido o intelecto.
E, igual a outros homens tantos,
Abomino a igualdade linear;
Embora, às diferenças sociais, seja contrário;
Convenientemente, tenho os discursos vários.
Todavia, inserido neste contexto impar,
Olvido meus princípios em ermo canto.
E me torno partidário
Deste poder político permutável e abjeto.
Igualo-me aos debatedores de projetos,
Estas figuras bizarras do plenário.
Ora, revolta-me a matança de animais
Cumulada com a destruição planejada e estúpida do meio ambiente;
Ora, em banquetes, sirvo-me de iguarias especiais.
Será carne de bicho de cativeiro, ou de estimação, ou em extinção, ou de gente?
A guerra unilateral e étnica,, diuturnamente,
Banaliza, em todos,
A vida dos outros.
E legaliza (?) o poder imperial.
São os boníssimos EUA versos o “Eixo do Mal”;
Submisso, o resto do mundo, de camarim, conivente.
Agora o governo pretende reparar um dano imensurável
Com a quota para negros. Em vez da causa, foca a conseqüência.
Todos consideramos uma atitude louvável;
De novo, o apoio plural denota a conivência.
Com o pretexto de consolidar privilégios,
Os direitos positivados nos inúmeros Códigos
Regulam, à luz da lei, os preconceitos
Contra os pretos, contra os estrangeiros,
contra os adolescentes, contra os índios, contra os torcedores,
Contra os idosos, contra os evangélicos, contra os católicos.
Enquanto a vida, este direito divino e natural e universal,
Espremida por entre tantos Tratados, Convenções e Estatutos,
Não passa de uma “ínfima quota” quase um vulto,
Vulgaríssima, já um insulto fatal, senão banal.
Sob o pêndulo do imperialismo,
Amontoados, feito os mortos do genocídio de Ruanda,
Desprezíveis, tal os “terroristas” chacinados na mesquita,
Depois da diáspora da alma humana,
Dispersos, ao relento das varandas,
O sentimento, o equilíbrio, a razão, a emoção e a vida.
Enquanto a bolsa dorme e acorda com mau humor,
Enquanto o mercado movimenta-se com pavor,
Enquanto o câmbio flutua feito um condor,
Enquanto o poder impõe-se e com temor,
Com o bestial subterfúgio de exterminar o terror,
Os humanos suplantam o calor e desbotam o esplendor e obliteram o amor.
Que povo, que sábio – ou idiota – se atreverá a viver
Neste mundo sem fronteiras, porém, tomado pelo horror?
Amanhã... se que haverá vencedor,
Tão logo feneça este sanguinário capitalismo.
Curitiba
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